terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Caminhos


Ela já tem 90, é animada e dança todos os finais de semana no asilo. Toma a frente de muitas decisões e exigências. É autoritária e engraçada. Mas ninguém vai visitá-la... ela chora sozinha em seu quarto, enquanto tenta sorrir ao menos uma vez de verdade.

A doença já consome seu fígado e intestino. Seu coração, de paredes fracas, não suportam mais muitas emoções. Os 60 estão pesando em suas costas e tudo o que ele deseja é que seu irmão saiba o quanto ele é grato por sua família cuidar dele.

Ela tem 70, e ainda não sabe onde se meteu. Sente que metade de sua vida foi desperdiçada, e percebe que não atinge a média daqueles ao seu redor. Freqüentemente riem dela, mas ela ri em troca. Ela engana-se, como se isso lhe desse algum prazer.

O melhor momento de sua vida é quando os netos vêm visitá-la. Já não tem o mesmo animo de quando era jovem, e não consegue parar de pensar o quanto jogou sua vida fora. Agora, com 65, quer ver os netos crescerem, coisa que não fez aos filhos.

O sucesso não subiu à sua cabeça, mas ele gasta horrores para ter o conforto de que julga necessário. Às vezes se sente sozinho, mas é um grande empresário, pode comprar companhias. Quando se olha no espelho, mente para si mesmo dizendo que tem 40... mas os 60 são implacáveis.

Ele tem 73, e ainda não sabe o quer ser.

Um comentário:

Cáh disse...

Só deu pra ler e sentir saudade....
desobrir coisas que ainda não sei.. de uma senhora que foi embora... e nem dançou... mas sorriu verdadeiramente um milhão de vezes!