quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

... do jeito que der!

Todo dia ela acorda com aquela sensação estranha. Os cabelos desgrenhados, a boca amarga e os olhos inchados... e mesmo assim ela levanta sem pressa para se arrumar. Olha para o outro lado da cama e sente naquele vazio um frio terrível. Sonolenta, se arrasta para o banheiro, onde começa a se preocupar um pouco mais consigo mesma...

Tudo o que se quer

One day
Um dia,
When youth is just a memory
quando a juventude for só uma memória
I know you'll be standing right next to me
Sei que você estará ao meu lado
(Love Will Show You Everything -
Jennifer Love Hewitt)

As rugas no rosto escondiam um pouco de sua expressão. Na verdade, lhe davam um ar sempre rabugento, de mal com a vida. Seus olhinhos marejados pela brisa da manha, piscaram delicadamente, quando seus ouvidos – que já não tinham a mesma acuidade – lhe indicaram a aproximação de alguém.

Em seu andador, ela e seus cabelinhos brancos perolados, vinham cuidadosamente até a varanda, onde se sentou ao lado dele. Trazia no rosto sempre um sorriso, como se suas memórias fossem de momentos tão bons, que a colocassem sempre neste estado de graça. Ele adorava, especialmente, isso, nela.

Ela esticou a mão para pegar uma xícara na mesinha de centro, e se servir de um pouco de café quente. Mas encontrou a mão dele, sobre a sua. Seus olhares se encontraram por sobre a mesinha novamente, e naquele instante sutil, souberam: fizeram as melhores escolhas na vida.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Os outros passarão, e eu, passarinho...


O universo está em constante expansão, pregam cientistas. Numa valsa triste no meio da escuridão, galáxias giram em seus eixos imaginários, traçando caminhos ilusórios no espaço. Mas elas se enganam... pois nem com toda esta caminhada, nunca chegarão a lugar algum.

Os sistemas solares, pobres crianças, filhos de galáxias, acompanham os passos de suas mães. Rodopiam, giram, valsam pelo universo, reunindo matéria, poeira e planetas sob sua gravidade. Assim são iludidos os pequenos planetas... que fracos em sua vontade gravitacional, cedem à atração dos sóis.

Os planetas são iludidos. Acreditam que chegarão em algum lugar se simplesmente girarem em torno de um Sol conquistador. Acreditam que vão mudar a existência de si mesmos, se girarem em torno de si. E muitas vezes conquistam pobres satélites que caem no mesmo conto. Os planetas são enganados por sóis que foram confundidos pelas galáxias cegas de realidade.

Nós vivemos em planetas que se iludem, natural que nos iludamos também. Caminhamos para todos os lados sobre o solo desta Terra, mas não importa onde estivermos, ainda estaremos sobre ela. Não importa para onde o seu destino leve, ou quanto tempo percorra, sempre seremos os mesmos.

O caminho muda, mas as pessoas são elas. Melhores ou piores, serão sempre elas. A ordem das árvores não altera o passarinho...

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

O outro lado...


Traz problema, traz. Pode trazer! Que eu já mando logo, ali na porta, tudo isso se foder!

Resolvi ver as coisas de um ângulo diferente. Afinal, há tanta coisa pior do que decepcionar-se com um relacionamento que duraria anos, ou com a fidelidade que você jurava “de pé junto” que era real.

Tem muito mais amargura no mundo do que acreditar que sua vida vai dar uma puta guinada se você jogar tudo pro alto e acreditar num sonho, e esse sonho simplesmente não se realizar (e você jogou tudo MESMO). E agora eu vejo que realmente há mais dor no mundo do que a simples perda de amigos, que outrora pareciam tão seus, e agora parecem tão só deles.

Não me decepciono mais com amores relâmpago, que surgem do nada, mergulham seu coração num cálice de vinho, embriagam seus pensamentos, e depois vão pra qualquer lugar. Vou achar, a partir de agora, até divertido.

Pretendo não me importar se você está bem ou não, se está feliz ou não. Vou simplesmente dar de ombros e dizer: “Que coisa, não?”. E também não vou me importar nem comigo, vou descer quantos níveis quiser ou puder, sem me importar com o que vão falar.

Quando eu sentir que está na hora, vou pirar belamente, como só um Salvador Dali podia. E hora que tudo isso quiser doer, eu vou dizer: “Opa, opa, opa! Parou!” – com o dedo indicador entre os lábios fazendo “shhhh”.

Chega de manha. Chega de tristeza. Chega de mi-mi-mi...

Se alguém me quiser, vai ter que me querer por mim. Por que nem mesmo eu me quero mais, então vou relaxar...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Foi ciúme, sim!

Eu achei que pudesse agüentar qualquer coisa. Ledo engano. Quando se trata de você, eu simplesmente sou simples. Não sou ninguém com força de vontade ou com potencial pra qualquer merda. Eu sou simples assim, humano, falho. Percebi que todo o meu amor e toda minha paixão tem um limite, e nele, eu andei perdendo meu amor próprio.

Eu me traí. Quando soube que você tinha outro alguém e estava se dando tão bem, eu me traí. Naquela tarde mórbida, eu encontrei um alguém ridículo e num lugar inóspito, fiz algo reprovável. Entreguei minha alma ao Diabo, por que, sinceramente, se não posso ter você: ao Diabo com minha alma!

Não faço mais questão de ser coerente, condizente. Não acho que eu faça mais sentido, finalmente. Danem-se aqueles valores, dane-se o que e quem eu sou. Vou arrumar um jeito de tirar você – que está tão bem – daqui de dentro do meu peito. E no fim, dane-se eu. Vou cometer alguns pecados pra ver se alivia esse sentimento, que já nem deveria existir.

Foi ciúme, sim. Perdi a cabeça. Esqueça.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Comprei um carro de luxo!

Comprei um carro do ano. Mal sabia eu que tudo isso era uma furada. Ele me disse que ia me dar amor, carinho e atenção, com seu banco de couro, pintura polida e rodas esportivas. E eu acreditei, que horror.

Ele disse que ia me cuidar na gripe, me levar para qualquer lugar que fosse melhor para eu me recuperar. Eu até desconfiei, mas comprei. Comprei o carro caro para me curar do mal.

E ele disse que me curaria o fogo... ia me satisfazer. Achei que era normal, que poderia acontecer. Até que ele disse que sabia gritar e pedir por socorro. Eis que me apaixonei e comprei.

Hoje, ainda sinto a angustia, a sede, a solidão, a gripe e a dor. Fora isso, ainda fica essa enorme sensação de tolice, e as prestações que eu pago, pelo tal carro “de luxo”. Eu não pensei, foi impulso, pra sanar um momento, silenciar uns barulhos, me esqueci de respirar... Foi um, dois, três, “vendido”, e eu estava lá com o carro.

Agora eu paro e sei que tenho tudo. Mas na hora pensei “Será?”... E nesta manhã, minha amiga comprou uma bolsa de grife... para se curar do mal...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Pessoas perdidas, coisas certas e horas erradas

Passou a tarde inteira tentando inventar uma forma de dizer o que sentia. Foi do bilhetinho anônimo à declaração rasgada no meio do parque, com todo mundo – inclusive pipoqueiro – olhando. Mas nada parecia ser uma boa idéia. Quando interpelou sua mente sobre qual seria a melhor forma de dizer aquilo, ela respondeu:

“Quando for oito horas da noite, e o céu estiver escuro, vá para o quintal e leve sua gaita. Toque uma melodia sentida, profunda, mas que parta de seu coração, dedicada à Lua. Isso vai ser importante, porque ela é a Rainha. Vai demorar um pouco até ela te dar bola, mas não desista! Vá até o fim, nota à nota. Quando ela finalmente te olhar, e isso vai ser por volta das dez, as coisas vão ficar mais simples...

Cumprimente ela com um menear de cabeça, singelo, discreto e cortês. Isso vai deixá-la impressionada. Só então você deve pedir que ela lhe empreste seu manto de estrelas. Uma a uma, dirija as estrelas para os lugares corretos. Lembre-se: Estrelas são como criancinhas... você deve conquistá-las com simpatia e doçura, senão, elas vão aprontar com você. E seja paciente... elas vão querer brincar um pouco também...

Escreva sua declaração de amor no céu com as estrelas. Convença-as a ficarem paradinhas, formando a frase que tanto quer soltar. Se for bem sucedido nessa parte, vai por mim, vai funcionar. Só então você deve procurar uma floricultura!

Eu sei... será por volta das dez e meia... bem, se você tiver sorte... por que pode ser por volta das onze da noite. Mas não desanime! Encontre uma boa floricultura, e pegue um ramalhete de rosas. Sabe, as rosas são um símbolo do que você está sentindo. Então vai ser bem bacana entregá-las. Ah! Não se esqueça do bilhete... escreva assim: vá para o fundo do seu quintal e olhe as estrelas. Só isso. E assine!

Como será por volta da meia noite, na melhor das hipóteses, pode ser meio inconveniente ir chegando assim na casa dos outros. Então, pra não ficar tão chato, coloque o ramalhete com o cartão na porta da casa. Mas não toque a campainha! Vai que outra pessoa atende, vê o bilhete, lê as estrelas... ih! Pronto! Estragaria tudo! Então deixe o ramalhete e saia de fininho.

Quando estiver a uma distância segura, pegue seu celular, e ligue! Você lembrou de pagar a fatura do último mês, né? Senão não terá créditos para a ligação. Enfim... ligue e avise: há um presente pra você na porta de sua casa... e espere.
Vai ser lindo! E vai funcionar”.


Ficou por alguns instantes pensando, com um sorriso no rosto. Era uma bela hipótese. Tinha tudo para dar certo! A gaita, a floricultura 24 horas, o jeito com as crianças-estrelas, até a conta do celular já estava paga. Então se animou tanto, que decidiu: vou fazer!

Mas naquele instante, o destinatário de tal declaração passou em sua frente, ignorando sua existência. Trazia à tira colo, um outro alguém. Estavam apaixonados, perfumados como um “recém-casal”. Desde aquele dia, nunca mais a conta do celular foi paga, nem a gaita tocada.

Não se admire


Olha só... ta ficando cada vez mais difícil, viu? Eu tento me afastar de você, por que este sentimento confuso aqui dentro me tortura, mas seus olhos insistem em surgir no meu campo de visão. E meus olhos tão acostumados a apenas absorver a luz, refletem um sorriso que se esconde no meu peito. Ah, que ódio me dá! Eu tento esconder mas ele insiste em se manifestar.

Confesso que, para aliviar a dor, ainda vejo suas fotos, escondido. Há Orkut, Facebook, Multiply, e mais uma série de sistemas que, na intimidade do meu lar, me permitem te encontrar. E fico imaginando se sua voz pode ressoar tão confortável quanto este teu sorriso, e acalmar os batimentos deste meu pobre coração sem sintonia. Quisera eu estar naquela festa onde você parece tão feliz, ou ao seu lado naquele local macio em que você parece descansar. Ai, ai...

E quando você resolve me dar atenção, céus. O mundo parece ruir ao meu lado, como um castelinho de areia. Na verdade, mesmo que fossem rochas gigantes, eu não notaria. Sua atenção me rouba a atenção, o olhar, a cena, o ar, a vida... As vezes finjo que não, que não me importo, mas o melhor momento do meu dia é quando você resolve me dirigir sua palavra. Sem pretensão. Sem opinião. Só falar por falar. Ah, que me derreto.

Me sinto culpado por confundir este sentimento assim. Vai ver estou errado em seguir dessa maneira. Mas, olha, só pra que você saiba: ta difícil mesmo. Então, “não se admire se um dia um beija-flor invadir a porta da sua casa, te der um beijo, e partir. Fui eu quem mandei o beijo, só pra matar meu desejo. Faz tempo que não te vejo”... ai que falta d’ocê...

domingo, 10 de outubro de 2010

Mãe

O ventre antes que me concebeu, tanto em corpo, quanto em alma, é responsável também pelo poder de cura. De sua energia criadora, a vibração salutar me abraça, e assim renovo meu ser.

Obrigado mãe, grande mãe e santa mãe. Foi de vós que saí, em corpo, alma e coração.

Assim seja.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Não está completo!

Ainda falta alguma coisa para tudo ficar perfeito e começar a caminhar, mas eu sei que essa “alguma coisa”, não quer fazer parte mais. Falta o olhar de “alguma coisa”, que entre em meus olhos e revele um paraíso de companheirismo e afeto. Ainda falta “alguma coisa” com mãos suaves nos meus cabelos, enquanto eu tento dormir. E falta “alguma coisa” que coloque a mão no meu peito, me impedindo de atravessar a rua, quando o sinal abrir.

Quando eu te conheci, percebi que tinha “alguma coisa” dentro de você que me chamava muita atenção. Talvez fosse aquela criança escondida em seu quarto escuro, ferida por amores de um passado nem tão remoto. Talvez, essa “alguma coisa” fossem seus sorrisos de bem com a vida, suas piadinhas de toda hora, e o jeito quase aristocrático de se portar... como se fizesse parte da mais fina nobreza.

Porém, agora, no meio disso tudo o que está acontecendo ao meu redor, ainda falta “alguma coisa”. E esse “algo”, é sua presença. Pra mim, dói não te ter aqui comigo. Pra você, talvez seja até melhor assim. Tudo bem... Estou me acostumando a assistir TV sozinho no sofá, então talvez eu possa ficar sem mais “alguma coisa”... Vai doer, mas já é hora de buscar “alguma coisa” em mim.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Consternado

Teria tanta coisa pra dizer, tanto argumento pra fazer você entender. Mas sinceramente? Acho que cansei. Chegou num ponto em que simplesmente não tenho mais vontade de que você entenda, e tenho a impressão que simplesmente deixar as coisas assim, vai me fazer sofrer menos. Sim, estou sendo condescendente, conivente com o fato de que você faz o que quer e é como é.

Eu jamais vou te pedir que mude. Muito pelo contrario, meu plano era aprender a lidar com você e suas “normalidades”. Mas eu também pensei que você fosse fazer o mesmo, me perceber, e este “pensar” foi uma espada que eu apontei pro meu estômago. Me parece que quanto mais eu abraço a sua causa, menos você percebe qual é a minha. E agora estou aqui, chorando, outra vez...

A solidão é uma coisa estranha, pois ela nos faz ver coisas boas em situações que a gente não costuma ver. Talvez seja isso... não há sentimento, apenas solidão. Ou talvez haja algum sentimento, um pequeno, que não resiste a tanto orgulho e arrogância. Eu sei lá... sou tão emocional que as vezes penso que todas as pessoas podem ser. Mas talvez você seja diferente!

Pode ser que você seja aquele tipo de gente que repele o sentimento como se afastasse uma mosca. Blasé. Indiferente. Frieza. Julga tão dispensável o “sentir”, que simplesmente não sente. Ou pior, pode ser que eu não tenha sido suficiente. Pode ser que tudo isso que eu chamo de “tudo isso”, não passe de um “nada”... que não consegue te despertar coisa nenhuma.

O fato é que fico frustrado vendo você no meu pensamento, como se um dia tivesse existido de verdade ao meu lado. E choro feito criança que não consegue alcançar o pote no alto do armário. Uma criança que já levou tanto tombo tentando escalar a estante, que não quer mais arriscar, tem medo. E vai ficar sentadinha no chão, chorando, olhando pra cima, admirando e querendo, aquele maldito pote... Condescendente... Conivente...

domingo, 26 de setembro de 2010

... estou só desde então!



Se eu me apaixonar, vê se não vai debochar da minha confusão. Uma vez me apaixonei e não foi o que pensei, estou só desde então.

Se eu me entregar total meu medo é você pensar que eu sou superficial. Se eu não fizer, amor, assim sem mais... Se você brigar e for correndo atrás de alguém, não vou suportar a dor de ver que eu perdi mais uma vez, meu amor.

Mas se eu sentir que nós estamos juntos, longe ou a sós, no mundo e além. Pode crer que tudo bem! O amor só precisa de nós dois, mais ninguém. Se você quiser ser meu namoradinho e me der o seu carinho sem ter fim, prá você eu digo: Sim!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Calada na noite

Na calada da noite, uma voz entorpecida pelo choro, ecoou num grito histérico. Daquele som entristecido, apresentou-se a fúria que grunhia dentro do peito. E numa nota antes não alcançada se fez ouvir. Agora ouça bem, pois este assombro vai ribombar nas cavernas escuras de seu coração, e esta voz que fala de amor e devoção não vai mais chorar, calada pela escuridão.

O seu solo acabou! Não contará mais com a minha participação. Sei que minha voz pode dar mais emoção à canção, então não vou fazê-la mais dormir. Escute bem, pois nessas notas eu estou imprimindo emoção. Nesse timbre trêmulo há, ao menos, muito mais canção do que em tudo o que você já se propôs a fazer.

Tentei de tudo para ser a harmonia nessa pauta, e quis compor para nós uma canção melhor. Mas de tudo, o que restou, foi o pior. Pois em nenhum show, na solidão, alguém se faz brilhar. Sendo assim, cansei! Não será por você que vou virar silêncio. Não será em sua melodia rabiscada que vou estragar minha voz. Não será pelo seu tom grave que vou deixar meu Soul sem alma.

Essa voz que eu pensei ter morrido, explodiu em decibel. Agora sinto as notas do que é minha canção, e quer saber? Ela toca agora sem você! Dos meus arranjos, fluem flores, e não há espaço para seu falsete. Seu timing me atrasou, mas não o suficiente. Pois agora, eu recuperei meu tom, e vou cantar!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Concedo-te 3 desejos!

Reclamo do que sofro, não para ter sua pena, e nem para que me mostre soluções. Eu sorrio quando vejo isso, pois este é o claro problema do ser. Há esta arrogância em acreditar que se pode curar todo mundo, fechar todas as feridas, abrandar todos os corações. Em momento algum eu reclamei de minha sorte, pedindo que você a mude. Não quis soluções. Não quero respostas, nem caminhos, nem alternativas.

Eu só quero que me ouça com carinho. Quero apenas um pouco da sua atenção. Quero que console meu choro copioso em seu abraço, me permitindo sentir seu perfume, que associarei ao bálsamo de meus sentimentos. Só quero que me dê um beijo, e um cafuné, que minha mente interpretará como a chave que vai destrancar minha calma e paciência, fazendo-as serem plenas. Não... Não resolva meus problemas, apenas me dê um pouco de amor.

Se eu tiver esta ligeira atenção, volto a sorrir. Volto a ter esperanças num amanhã melhor. Volto a acreditar que posso andar livremente por este vale de lágrimas, sem me molhar. Me permita sonhar. Me iluda! Me faça crer que as coisas vão ficar bem, não me deixe perder a tão aclamada esperança. Me faça crer que este é o melhor caminho, e que eu vou encontrar uma saída, uma resposta, uma solução. Eu sei que sou capaz disso... só preciso que você creia em mim.

Me transformo num gênio, para você. Só preciso que, entre seus três desejos, você peça para que eu seja feliz.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Enquanto o amanhã não chega...


Houve um tempo em que, quando um adulto se aproximava, e me acariciava os cabelos, eu me sentia feliz. Bastava um toque na cabeça, um sorriso e um “como vai, garoto”, e eu sorria em retribuição e corria feliz para meus brinquedos. O dia ficava mais divertido, os brinquedos ficavam mais legais. A vida ficava mais tranqüila, até o dia acabar, e eu esgotado, dormisse. Sorrindo. E era gostoso dormir...

Houve um tempo em que um “Bom dia, meu anjo”, seguido de um papo animado no café da manhã, já supria minhas necessidades. Bastava aquele momento único e tranqüilo, e todo o dia se tornava mais prazeroso. Os amigos da escola não me amolavam, as brincadeiras não me irritavam, as brigas não me estressavam. Eu seguia o dia com a confiança plena de que ao chegar em casa, eu estaria tranqüilo, dormiria sossegado, e outro café da manhã animado iria surgir. Era gostoso dormir...

Houve um tempo em que um “Eu te amo”, seguido de um beijo, sarava todas as feridas. O dia era estressante, o trabalho era exaustivo, as pessoas fustigavam meu humor com grosserias e violência. Tudo era maus tratos, arrogância, avareza. Mas eu me mantinha firme, sério, educado, compenetrado no que eu tinha que fazer e, modéstia à parte, eu fazia muito bem. Por que eu sabia que, ao cair da noite, debaixo de uma árvore numa rua escura qualquer, eu iria ouvir isso. E teria meu beijo. E eu voltaria curado do caos diário pra casa, e dormiria bem. Era gostoso dormir assim...

Houve um tempo em que um “Ei, cara... vamo tomá uma aqui na sacada? Chega aí!”, completava minha necessidade de prazer. O papo descontraído, a aceitação de minhas particularidades, as pessoas ao redor. Isso fazia esmaecer os problemas do cotidiano, como a falta que eu sentia de ouvir “Como vai, garoto” com a mão de um adulto sobre minha cabeça; ou a falta do “Bom dia, meu anjo”, no café da manhã; ou a angustia por ter perdido o “Eu te amo” debaixo do Oiti escuro, antes de dormir. Supria, em partes, mas ainda assim, me ajudava a dormir. E era gostoso dormir, depois...

Hoje, é um tempo em que não tenho mais a mão de um adulto forte sobre minha cabeça, como se fosse me proteger. Não tenho mais o amoroso “bom dia”, no café da manhã. Não tenho mais um beijo de boa noite, carregado de paixão. E nem tenho mais companhias para uma happy hour, a fim de lavar a alma pro dia seguinte... São dias e noites vazias, sem entusiasmo, sem ânimo, nas quais eu me arrasto como um velho peregrino, tendo na mão uma bengala chamada “paciência”. Hoje, eu tenho insônia.

Amanhã, creio eu, tudo pode mudar. Estarei de barba cortada, roupas lavadas, corpo curado. Terei o luxo de acordar de manhã, preparar o café, e dizer “Bom dia, meu anjo”, para quem acordar ao meu lado. Vou poder atravessar o mapa para reencontrar meus amigos, e convidá-los para uma “happy hour”, mesmo que seja uma segunda-feira. E nesse dia, provavelmente estarei com um presente nos braços, para entregar ao garotinho ou garotinha que estiver correndo pela casa da minha família. Ao entregar, vou tomar o cuidado de colocar minha mão sobre sua cabeça inocente, e dizer “Ei, como vai criança?”. E vou poder abraçar minha família com o coração acelerado, e não mais confuso como está, desejando uma boa noite de sono para todos.

E ao cair da noite, com um beijo apaixonado, eu diga “Eu te amo”, e durma bem. E sonhe com a época em que eu era aquele garoto que brincava alegremente.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Amor, Próprio Amor


Eu te amo. Mas agora, eu só te amo pra mim. Vou me abrigar sob as asas deste sentimento solitário, e vou senti-lo confortavelmente, como nunca fiz antes. Não adianta dizer mais nada! Não, eu não quero este amor em troca. Eu só vou sentir o que sinto, por que eu simplesmente sinto, até isso acabar.

A minha história é feita de amores que sinto, de amores que me movem, do combustível que me mantém vivo e aceso pra viver. E também é feita de lenhadores que não trazem a madeira, e de chama que míngua na lareira. Por isso, agora abro mão da ajuda alheia, que se vier é bem vinda... mas se não vier, eu não contava mesmo com isso. Vou amar, por que o amor está dentro de mim e quer sair.

Não vou mais gritar, não vou mais chorar. Não quero mais desabafar. Vou apenas sentar no canto escuro da minha alma, confortavelmente, e sentir todo o amor do mundo que puder. Vou escrever todas as cartas românticas que puder, sem assinar um nome de destinatário. Vou amar intensamente, sem saber a quem. Pronto! Agora amo uma idéia, um ser abstrato. Vou amar um alvo na parede, e deixar este amor fluir.

Descobri que todo mundo que ama libera um pouco de amor na atmosfera. E isso gera uma espécie de nuvem psíquica, uma “piscosfera” de amor. Ela caminha pelo mundo feito uma tempestade vermelha, trovejando, obscurecendo o sol. E cada um aqui no solo que se sintoniza com ela, recebe uma descarga sobrenatural de tanto amor. Eu quero que mil raios de amor atinjam minha cabeça, até que eu pire nas chamas de uma paixão enlouquecida. Por isso vou amar em segredo.

Vou amar quietinho, no meu canto, no meu antro, no meu refúgio. Meu santuário terá um pequeno altar com velas e rosas vermelhas, um prato de prata e uma adaga de ouro. Um cálice de cristal puro vai ecoar o som do vinho derramando, e meu coração em oferenda sobre o mel vai adocicar meus sentimentos. Aprendi que o amor é uma magia, ou um mago. Então quero ser seu avatar.

Possua-me amor, eu libero meu coração e meu corpo para sentir todas as agruras que disponibiliza para seus seguidores. E quando acabar comigo, vou poder dizer: Eu amei ao menos uma vez! Não saberei a quem, mas terei amado. E quando morrer, minha essência vazará entre meus dedos e fluirá para integrar-se à nuvem de amor que paira pelo mundo.

Talvez minha alma se transforme num dragão vermelho escamado rubi, que cospe fogo e desejo, que lambe a alma dos outros e vira os olhos de prazer. Talvez eu devore a alma de quem amar também. Pois o amor destrutivo assim, eu sei sentir.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Por favor, só não pise no sofá!

A gente resolve sair um dia, e passear pelo mundo com uma mochila nas costas. Muitas vezes carregando nada mais do que algumas trocas de roupas, um MP3 com músicas divertidas, alguns trocados e muita coragem. E a gente parte dando tchauzinho, sorridente, para quem fica pra trás – e estes, geralmente choram, nos vendo partir.

Esta cena deveria ser um alerta. Se quando optamos por ir para longe, e os outros choram, é por que a coisa não é boa. Tudo bem que rola um certo egoísmo aí, de as pessoas não quererem que você vá, e querer que você fique sempre por perto. Mas na real, é que quem fica sabe: você está ferrado!

Partir significa recomeçar. É tudo novo. A começar pelo caminho. O trajeto é desconhecido, as companhias são desconhecidas, o local é estranho aos olhos. A comida, a água, o dia, e finalmente, as pessoas são desconhecidas. Mas, sobretudo, os sentimentos que agora pululam no peito, também serão desconhecidos.

Novos laços são firmados. Novas amizades, afetos, e quem sabe até amores. E longe de casa você pensa que pode sufocar o mundo com sua sede de viver, sede de crescer, capacidade de transformar qualquer metal em ouro. Aí, longe de casa, daqueles seres que te reconhecem e lembram dos seus valores, você começa a testar novos valores. Uma enxurrada de “por que não?” surge em cada nova esquina, em cada novo encontro, em cada novo beijo, em cada novo “olá”. E é tudo tão novo, tanto entusiasmo, que quando você menos espera... está longe demais de casa!

E como “casa”, eu me refiro a tudo! Seus valores, suas potencialidades, seu conforto. Você deixa de estar em casa, mas deixa, também, de ser você. Ou pelo menos quem você era. E quando você choca uma realidade na outra, vê claramente: “O que eu me tornei?”. Nesse meio tempo, você percebe que na sua nova casa, todos estão bebendo, curtindo, usando alguma substância ilícita, o som está alto, as pessoas caminham nuas pelos corredores, e todos dizem que são seus amigos... e que a festa está boa...

Uma lágrima de desespero escorre no seu rosto. “Como eu deixei tudo isso acontecer?”. Aí você decide dar uma de louco. Larga tudo e vai embora! Resolve voltar. Abre o sorriso, os braços e o coração. Junta tudo na mochila de novo, pouco se preocupando se vai esquecer alguma coisa. Afinal, você está voltando pra casa... “pra casa”... e só de dizer isso, você se sente emocionado. E vai! Parte novamente, fazendo o caminho inverso.

E bastam cinco dias para você estar embarcando de novo, partindo novamente. Por que percebeu que onde você criou suas raízes não é mais seu ninho. E que agora você precisa encontrar seu caminho. E descobre que retornar para aquele lugar que te deixou tão desequilibrado, também não é agradável. E você chora, dando “tchauzinho” na janela para quem fica, que chora também. Agora você entende.

E quando chega, naquele lugar que agora você chama de “casa”, redescobre seus valores. Vê toda aquela gente e toda aquela bagunça e berra: “Parô tudo!”. Naturalmente, vão te xingar de careta, chato e outras coisas. E estes fetos emocionais vão para a casa de alguém que acaba de se instalar... e vai cometer os mesmos erros que você, por não compreender o choro de despedida de quem ficou. E você coloca a casa em ordem, tentando inutilmente fazer aquilo parecer sua “casa original”. Mas toda vez que você sonha, e diz “estou em casa” no sonho... é naquela primeira casa que você se vê.

Leva um tempo, mas dizem que você consegue criar algo que se pareça com um lar. Lentamente você vai convidando, seletivamente, as pessoas que você julga certas para entrar. Mas impõe algumas leis fundamentais: “- me ame; - cuide de mim; - me respeite; - me deixe te amar; - me deixe cuidar de você; - me deixe te respeitar; - e não pise no sofá. Por que aqui dentro dessa casa, as coisas não são bagunçadas assim, não”.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Yose Ue




Decidi montar meu jardim com aquilo tudo que mais gosto, e depois suspendê-lo, para bem longe desse piso raso no qual a gente vive. Meu jardim é um aspecto de minha própria natureza ou necessidade, e nele haverá muitas árvores centenárias, flores desabrochando, pássaros exóticos.

Em meu jardim os ambientes favorecerão meus hábitos. Como o espaço para meditar à sombra do Pessegueiro em flor, no alto da colina, rodeada pelo riacho e moitas de bambus. Ou o parque de Sakuras, com trilhas em terra pisada, que atravesse uma velha ponte de pedra. E até mesmo uma praia ensolarada, com Palmeiras Imperiais gigantescas. Minha casa, uma singela construção em madeira, no fundo de um vale fresco, será ladeada pelas folhas vermelhas dos Bordos, com um pátio anexo para eu cultivar Juníperos Shimpakus.

E quanto este cenário todo me cansar, vou escalar os degraus da montanha de pedras e Pinheiros, e no topo nevado vou me abrigar numa barraca. E durante a noite, namorando a aurora boreal, vou estar acompanhado do meu bule de chá, observando todo o planeta e imaginando: como deve ser triste viver longe daqui.

Meu jardim não será aberto à visitação. Por isso, um Qirin logo na entrada cuidará para que somente os turistas que mereçam possam subir. Ao longo do caminho até minha morada, borboletas azuis cuidarão de guiar os convidados até seus aposentos. Para percorrer este pequeno paraíso, um longo e branco Dragão perolado será minha montaria, e viverá tranquilamente numa caverna sob uma cachoeira, atendendo somente quando eu tocar minha flauta.

Esse pequeno paraíso será envolto numa bolha de mistério e imaginação, como o Velho Reino de Avalon ou Atlântida. E somente aquele que possui a chave para atravessar a sutil camada mágica que me desliga desse mundo, poderá encontrar os portões do meu Jardim. Aqui dentro, eu brinco de ser feliz, o tempo me obedece, e o amor pode ser sentido respingando por todo lado como orvalho. Aqui, eu vivo a realidade... a “minha realidade”.

Enquanto eu estiver no meu jardim, posso pedir um favor? Apague a luz quando entrar.

Unsent III



"Unsent" é uma musica de Alanis Morissette onde ela canta trechos de cartas que nunca enviou. Abaixo está meu terceiro "unsent". Coisas que escrevi, mas nunca enviei...

[...] Pouco adiantou apagar meus cigarros, deixar meus palavrões no fundo da garganta, não ouvir mais minhas músicas “mundanas”. Pouco adianta, na verdade, entender teu pensamento, teu jeito, teus defeitos. De nada me ajuda receber você com a sinceridade do que sinto, se você simplesmente não acredita em mim. Se sua visão ao meu respeito é tão limitada a este ponto, eu desisto! Não há nada que eu possa fazer para te deixar mais a vontade, confiante ou seja lá o que for que você queira ouvir ou sentir. Tudo o que eu fizer, você vai perverter, e aí meu bem, não há quem consiga agüentar isso.

[...] Me deixar esquecido na sua agenda telefônica, no fundo do seu coração, como uma conta à ser paga, não é respeitoso. Sei de suas dificuldades em expressar qualquer coisa, qualquer sentimento. Sei de suas dificuldades em colocar pra fora tudo o que sente, e sei que você sente um monte de coisas. Mas fugir para baixo das asas de outra família não vai te livrar da dor que sente por não se sentir bem pela sua própria. Eu quis chegar bem perto do seu coração e te ajudar a se transformar numa pessoa melhor, mas se você não quer mudar, tudo bem. Deveria ter, pelo menos, o respeito devido por mim, na qualidade de ser quem sou.

[...] Se você quer falar de seus problemas e dores, quer meu colo para chorar, meu ombro, ou simplesmente gosta de ouvir minha opinião, então faça isso por mim também! Entenda que tenho necessidade de chorar, de deitar no seu colo e pôr tudo pra fora, mesmo que seja pra você me dizer: “calma, vai ficar tudo bem”. Então não me cobre aquilo que você não pode me oferecer, não queira de mim aquilo que você não é pra mim.

[...] Sim, eu troco você por um copo ou dois de vodka cara. Limpar minha alma chorando nos ombros de alguém, mesmo que ninguém esteja entendendo patavinas do que este degenerado diz, é muito melhor do que sentar na sua frente e não ser ouvido por você. O álcool tem essa capacidade estranha de nos entender, nos abraçar por dentro, e nos fazer chorar horrores... coisa que um abraço também tem poder, mas depende nas mãos de quem. Sendo assim, não me recrimine. Lembre-se que nossa relação deve ser uma troca... e não uma via de mão única.

[...] Cansei de vocês! Cansei dessa suposta benevolência que não me põe comida no prato. Cansei da hipotética bondade que finge me apoiar, mas que está pouco se lixando para o meu bem estar. Cansei de ser a galinha que bota ovos de ouro pra vocês, em troca de meia dúzia de grãos de milho de parca qualidade. Meu talento não é dos melhores, mas ainda assim é mais do que o seus. No que depender de mim, “tô fora” desse galinheiro, foda-se este puleiro, eu vou cantar em outro terreiro. Adeus!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ninguém é obrigado

Sabe naqueles dias em que todos os seus dissabores resolvem explodir na sua cara, e você fica com uma puta cara de merda? Sua aura fica cinza, apodrecida, com um aspecto pegajoso... e você só quer reclamar e chorar? Sabe aquela sensação de depressão batendo à porta da sua percepção e um abandono tamanho invade seu peito? Sabe, nesses dias, em que você não sabe qual é a porcaria nessa vida que te mantém vivo e você nem sabe por que é obrigado a continuar vivo? Pois bem, ninguém é obrigado a tolerar você.

Cada criatura no mundo ta vivendo sua vida, prazerosamente ou não, curtindo seu momento. Cada um tem suas próprias doçuras ou amarguras, suas dívidas e dividendos, e é bem assim que a banda toca: cada um que cuide do seu. Ninguém é obrigado a fazer nada por você, nem é obrigado a sequer saber o que fazer. Não é culpa do mundo que o mundo te odeia, talvez você até mereça isso! Ninguém é, nem nunca foi, obrigado a tolerar você.

Entretanto, foi o filósofo Diogo Pires Aurélio, em sua obra “Um Fio de Nada – Ensaio sobre a Tolerância”, quem levantou uma questão sobre o termo “tolerar”. A ambivalência no conceito de tolerância surge na etimologia da palavra, já que “tolerare” significa, em princípio, “sofrer, suportar pacientemente”. Mas também tem a acepção de “sustentar”, no sentido de “alimentar alguém”. De uma forma mais explícita, o radical “tol-“, comum a “tolerare” e a “tollere”, denota a ação de erguer, elevar.

Portanto, ninguém é obrigado a tolerar ou suportar você. Nem você é obrigado a tolerar ou suportar alguém. Mas se você se prontifica a fazer isso, assumindo papéis, aí sim, sua responsabilidade ou quase obrigação (senão a própria) é tolerar.

domingo, 29 de agosto de 2010

Em 4 fases

Lua Crescente: Valentine’s Day (Garry Marshall)

Vamos deixar clara uma coisa? Não dá pra ser tão raso assim. Amor pra mim tem que ser quente, pimenta mexicana, Saara em pleno Sol do meio dia, vulcão em erupção. Sabe por que minha pele costuma ser mais quente que o normal? Sabe por que eu sinto menos frio do que você? Sabe o que me faz ser metade humano e metade louco? É minha conexão com o amor mais primitivo.

Amor e paixão pra mim são coisas que caminham juntas. E ao contrário do que dizem por aí, paixão não acaba não, se renova. O amor sim é constante... mas a paixão é uma descoberta diária do que é possível para se sentir mais e mais prazer com a companhia um do outro.

Deixa eu te mostrar que durante a tarde, enquanto o sol se põe, ainda é fácil sentir calor. Que a noite é tão fria, que nos obriga a ficar nus, debaixo de sete cobertas. Vem que eu te mostro que uma noite é pouco. 12 horas não bastam. Um dia inteiro, embora exaustivo, é recompensador... e insuficiente.

Francamente, não quero um “beijinho” ao acordar de manhã. Quero uma cena de sexo apaixonado, sobre a mesa de café, com sumo de laranja escorrendo pela sua barriga, enquanto eu tomo suco agridoce no seu umbigo. E após este tórrido café da manhã o seu cheiro de sabonete bom, enquanto seca seus cabelos após o banho, tenha certeza: vai me provocar de novo!

Reine sobre mim e me revele todo o amor do mundo. Jogue seu corpo nu em pêlo sobre o meu, e me deixa provar que isso é bonito de se fazer, uma verdadeira obra de arte. Deixa-me provar que isso que sinto por você não é uma ninfomania, e sim um amor tão intenso que me obriga a estar em volta de você, nu, beijando-te dos pés à cabeça. Ou lambendo-te... tanto faz.

Deixa que minha respiração ofegante dite o ritmo das batidas de seu coração de encontro ao meu corpo. Deixe que minha mente perturbada pela sua beleza viaje no mundo dos sonhos, enquanto eu estiver de olhos bem abertos, e suas pernas a me rodear o corpo. Deixe que eu veja a luz que atravessa as frestas desta janela sendo refletida nas suas costas, enquanto se deita na minha cama de solteiro, me espremendo contra a parede.

Preste atenção no que vou dizer, pois são as três palavrinhas que todo mundo quer ouvir sempre: “Vamos... Ficar... Nus!”

Lua Cheia: Do Começo ao Fim (Aluizio Abranches)

Eu podia ser aquele cara que te incomoda, que te invade a privacidade, que te pesquisa feito um cretino só para descobrir quem é aquele tal de “João”, na agenda do seu celular. Eu podia ser do tipo que te impede de ir pra faculdade, que te proíbe de usar aquela roupa, que dá escândalos no meio da rua ou que te obriga a fazer isso. Eu poderia ser o cara que te humilha, que grita, ou que te dá na cara! Mas não, eu te amo.

Eu podia saber teu segredo, te pegar no flagra, te chantagear, te deixar morrendo de medo. Ser aquele que te tem na mão por causa de uma palavra, que com um simples gesto detonaria tua vida. Ser aquele que te preocupa, só pelo jeito suspeito de olhar. Ou eu podia ser o seu escravo, na sua mão feito um cãozinho adestrado. Poderia dizer sim para todo e qualquer capricho seu, seu gato e sapato, onde você estiver. Mas não... Eu te amo!

Eu podia ser inatingível. Cercado de segredos que nunca digo. Poderia ser um suspeito, que te olha sempre sério, como se desconfiasse de algo ou tivesse medo de que você pudesse desconfiar. Ou eu poderia ser tão terno e afável como uma brisa da manhã em seus cabelos, puro feito um arranjo de crisântemos brancos, que não te toca ou viola. Eu poderia ser algo abstrato, imaterial como um som, etéreo, que atravessa seu corpo como luz sem que você sinta meus desejos. Eu poderia ser por você, como o amor de pai ou irmão, sublime, sem perversão. Mas não! Eu te amo...

Saiba logo essa diferença, por que eu estou falando de Amor (!!!), e não daquela “doença” que sentiram por você até agora.

Lua Minguante: Sex And The City (Darren Star Production)

Então, eu acho que falta profundidade nessa nossa relação. Fica cada vez mais difícil te amar, se não posso contar com você o tempo todo. Se não posso correr pros seus braços ternos quando o mundo me sacode. Se não posso te sacudir em meus braços quando o mundo parece quieto demais. Acho que falta profundidade, e assim fica difícil.

Dependo tanto assim de você, mas na maior parte do tempo sinto que há uma grande distância entre nós. Um abismo. E parece que tudo isso foi você quem colocou. Ou eu deixei você pôr. Tanto faz, agora... ele está lá... nos separando.

Sinto falta de poder compartilhar meus momentos contigo. De fazer dos meus momentos os seus momentos, e sentir que realmente faço parte de sua existência. Agora, somos tão independentes um do outro. Você não notou? Parece que se hoje eu me for, você não vai chorar. Vai apenas virar para o lado, atravessar a rua, e ir embora sorrindo.

Às vezes você me mostra que ainda há algo entre nós (além do abismo, claro). São momentos fugazes, rápidos e profundos, mas que terminam sempre com meus olhos brilhando em lágrimas... e você se distanciando, com serenidade, como se tivesse mil e uma borboletas voando em sua cabeça.

Sei e entendo que você atravessa um momento ruim agora. E pra ser sincero, muitas vezes eu até acho que posso te ajudar, se você quiser... repare bem: “se-vo-cê-qui-ser”. E geralmente não é o que você quer! Então como posso provar pra você que sou bom, que sou pro seu bem? Como posso provar que posso fazer parte disso tudo que é sua vida, sem me lascar?

Parece que há um abismo entre nós. Mas eu estou numa borda, usando meu All Star vermelho e jeans. E você, está na outra borda, atrás de cinco muralhas gigantes, um exército de espadachins habilidosos, no alto de uma torre enorme, vestindo uma armadura da mais leve e poderosa liga de metal.

Eu sou assim, fácil pra você. E você é assim... inatingível pra mim. Droga... me senti menor ainda.

Lua Nova: Perfume – The Story of a Murderer (Tom Tykwer)

Qual é o limite entre a sanidade e o bom senso, quando o que está em jogo é sua razão de existir? Quando o que está no comando, são seus instintos de proteção, preservação, sobrevivência... todos emaranhados por uma intensa necessidade de se manter vivo, perpétuo? Quando esta necessidade rege teus pensamentos não dando espaço ou razão para outro pensamento? Seria loucura responder “sim” a estes sentidos, sentimentos, instintos ou seja lá o que for?

E quando tudo isso se chama carência? E quando a necessidade gritante e urgente é a de um abraço, um carinho, um afago. Quando a alma necessita de um gole de esperança no meio da jornada que atravessa uma densa e perigosa floresta tropical. Qual é o limite entre a sanidade e o bom senso, quando sua razão de existir é não estar só? Seria loucura responder “sim” aos instintos que te seguram nos braços de alguém, pelo simples motivo de que você não pode, não consegue, não sabe... viver só?

E quando tudo isso se chama amor? E quando a necessidade gritante e urgente é a de estar ao lado daquela divina e humana criatura que teus olhos não conseguem deixar de ter na linha do horizonte nem por um segundo. Quando a alma implora pelo cheiro, pela voz ou pelo toque doce da pessoa que se ama. Qual é o limite entre a sanidade e o bom senso, quando sua razão de existir é amar uma pessoa? Seria loucura responder “sim” aos instintos que te impelem a atravessar milhares de milhas, pelo simples regalo de poder ter em seus braços... quem se ama?

E quando tudo isso se chama orgulho? E quando a necessidade gritante e urgente é a de manter a pose, o porte, o status. Quando a alma necessita dessa aura de austeridade, ainda que falsa. Qual é o limite entre a sanidade e o bom senso, quando sua razão de existir é não falhar em absolutamente nada? Seria loucura responder “sim” aos instintos que te mantém de cabeça erguida, pelo simples motivo de que você não pode, não consegue, não deve jamais... fraquejar?

E quando tudo isso se chama ceticismo? E quando a necessidade gritante e urgente é a de controle, razão, racionalidade. Quando sua mente necessita de informações concretas e corretas, diretas e retas, sem meandros ou meta-informações. Qual é o limite entre a sanidade e o bom senso, quando sua razão de existir é ser racional? Seria loucura responder “sim” aos argumentos que te seguram fixo ao solo como a gravidade, pelo simples motivo de que você não pode, não consegue, não deve ter fé, e crer apenas no que é... possível?

Qual é o limite entre a sanidade e o bom senso, quando sua razão de existir te confunde, a tal ponto, que lhe confere a vontade de morrer? Seria loucura responder “sim” aos pensamentos de sua mente, que é tão cruel e vil, e pior: apenas com você mesmo? Pelo simples motivo de que você não tem a atenção que julga ser merecedor, não tem o amor que acredita que exista, não deve fraquejar mas já é um fracasso, e simplesmente não sabe em quê ter fé?

O que são os limites?

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Ser feliz

Existe algo de insano na busca pela felicidade. Primeiro, por que sua existência nunca foi provada. Ela é como um mito qualquer, de alguém que já ouviu falar de um amigo do amigo, que um dia foi feliz. Segundo, por que ela está relacionada com a nossa motivação de viver. O que você seria capaz de fazer para atingir essa, talvez hipotética, felicidade?

Certa vez, consultei Dona Júlia, uma senhora muito humilde, simples, e praticamente cega dos dois olhos. Talvez enxergasse menos que 10%, mas viu coisas que não imaginei que fossem possíveis. Nominava-se cartomante.

Naquela época eu “quase amava” um unicórnio. Sim, aquele mítico animal, relacionado à natureza e a pureza de coração. Aquele ser intocado e tranqüilo, que só aparece para os justos e bons. Eu vi um. E me apaixonei. Entretanto, na mesma época, eu ainda “quase amava” um vampiro. Também, sim, aquele ser mítico que suga nossa essência vital, roubando nosso calor e alma com um simples beijo. Não bastasse isso, eu estava de viagem marcada, fundação de uma empresa marcada, era o início de uma nova vida pra mim.

Mal entrei em sua casa, e Dona Julia sorriu com seus poucos dentes e olhos cobertos pela catarata, dizendo: “Ah! Você tem uma viagem grande marcada, não é? Ai que beleza que vai ser...” – e ao contrário do esperado, eu não me assustei em perceber que ela via algo no futuro, que eu mesmo não tinha dito. Eu me senti à vontade.

Sempre me senti à vontade com pessoas que extrapolam a verdade humana. Videntes, psíquicos, médiuns, bruxas, unicórnios, vampiros, artistas... Sempre me vi muito confortável na presença destes seres fabulosos, que nos mostram o quanto é interessante ser “sobrenatural”.

Pois ela já me olhou “me vendo”, e decifrando o código do meu futuro. “Vai ser uma viagem longa, mas vai dar tudo certo”. E eu sorri, embora eu ache que ela não tenha realmente visto meu sorriso, pois ela logo se pôs a explicar que mesmo sem as cartas, ela via algumas coisas. Pedi que ela relaxasse, e me dissesse tudo o que visse.

Ela então colocou as cartas na mesa. Nos dois sentidos. Alertou-me que tanto o “vampiro” quanto o “unicórnio”, iriam ficar para trás. Mas que nessa viagem, eu conheceria Valete de Paus. “Ok!” – pensei – “Mas que diabos isso significa?”. Ela foi enfática: um jovem que fará parte de sua vida, mas que estará só interessado no seu dinheiro.

Eu ri... “Que dinheiro?” – pensei. E entre uma carta e outra, ela revelou o Às de Ouro, e mais outras cartas prósperas. Ela me disse que após três meses, as coisas começariam a melhorar, e que isso significava muitas surpresas boas para a empresa que eu estava prestes a abrir. E algum dinheiro. Foi quando ela me disse: “Você não será rico, mas terá uma vida bem confortável”. Eu pensei: “Amém”.

Em seguida, um certo Reis de Espadas, ou Paus, não me recordo bem, surgiu. Alguém mais maduro, ligado às Leis, e que me defenderia. No auge da consulta, ela me perguntou: “por que você não confia nele? Ele é quem vai te ajudar!” – pensei em seguida: “Não sei! Diga-me você, que está lendo este capítulo, eu ainda estou aqui atrás...”

No final da consulta, ela me garantiu: “Bem... pelo visto você vai ser feliz!” – e aí sim, eu me assustei.

Bem... mais de seis meses se passaram desde essa consulta. Estou sem meu unicórnio, sem meu vampiro. Não conheci nenhum “jovem” que se interessasse pelos meus parcos trocados, já que dinheiro também está me faltando, e isso me faz pensar: “cadê meu Às de Ouro?” (leia-se: “o que houve com minha empresa?”). Também não conheci nenhum advogado, juiz, delegado ou mesmo um policial que fosse me defender de qualquer coisa. E até agora estou esperando a parte do “ser feliz”.

Continuo buscando dinheiro com meu suor. Continuo buscando atenção, embora agora verdadeiramente ame um “colibri”, que voa em flores muito distantes... inacessível pra mim. Evito quem tenha cara de Valete de Paus. E sempre sou gentil com todos os Reis que me aparecem. Mas, sobretudo, continuo buscando a felicidade... ao ponto de me ver, hoje, tão triste.

Quanto mais procuro ser feliz, mais triste fico. Quanto mais continuo, mais quero parar. E esse masoquismo me fez pensar que realmente há algo de insano, pervertido, na busca pela felicidade. Primeiro, por que ela não é provada. Segundo, por que dói.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

'Tá falando com quem?


Inserido no meio de tanta merda, de tanta coisa estranha e sem sentido, vivendo cada atitude mais louca que outra, eu me vi desesperado. Estava sentado na cama, às 2 horas da manhã, após assistir um filme de suspense/terror. Eu não sentia medo, nem nada. Eu não sentia nada. Só estava triste pela minha atual situação e tudo o que vem acontecendo até aqui. Então olhei pro teto do meu quarto, mas enxergando além com a minha imaginação... eu olhei pro céu...

Minha mãe, católica, me fala muito de Nossa Senhora. Meu pai, kardecista, insiste para que eu tenha bons pensamentos e atraia apenas boas energias e a proteção dos Espíritos Guardiões com isso. Também me dizem para que confie no meu Orixá, Oxum e principalmente na justiça de Xangô, que logo Oxalá vai livrar os meus caminhos (até jogaram pó de pemba por todo o meu quarto). E também tenho recebido muita orientação evangélica, a partir de uma visão de Cristo que eu não compartilho até então.

Pois eu fiquei olhando o teto do quarto, imaginando o céu, e não sabia com quem falar. Não sabia a quem pedir ajuda. Não sabia se realmente existia alguém lá. Fiquei pensando no céu que eu via com a mente, e vi o universo também. Eu vi Saturno, claro, o planeta mais clichê da imaginação humana... e lembrei que aqueles suntuosos anéis nada mais são do que poeira e gelo em pequenos (enormes, na verdade) blocos... não são anéis reais. E Deus, o que seria? Quem seria? Qual seria?

Ontem a noite eu não orei, não rezei, nem fiz preces ou preceitos. Eu cantei um trecho de uma música, como uma criança faria para espantar a solidão e o medo do escuro. Sei que tem alguém do outro lado dessa dimensão que nos assiste, ou pelo menos quero crer que sim. Então espero que tenha ouvido meu cântico... o trechinho dizia: "Nesse quarto escuro existe um menino assustado... Ele é sozinho e teme que o mundo encontre o seu cantinho. Entrega ele pra cuidar, eu sei guardar segredo, eu sei amar! Não conto pra ninguém que esse menino é alguém de barba e gravata, e esse quarto escuro é sua alma..."

Certa vez minha irmã me disse: “Anda brigando com Deus é? Esse bate e assopra total e infinito na verdade é você esperneando tentando se encontrar... quando seu coração voltar pro lugar certo, espero que encontre o que está procurando”. E eu digo: “Amém”.

"Não se turbe o vosso coração, crede em Deus e também em Mim. Na casa de Meu Pai há muitas moradas (João 14:1-2). Se não fosse assim, eu não teria dito: vou preparar-vos um lugar, eu virei e vos levarei para Mim mesmo(João 14:2-3). Vós conheceis o caminho para onde Eu vou(João 14:4). Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por Mim(João 14:6). Em verdade eu vos digo, porque eu vou para o Pai... Mas aquele que crer em mim obras maiores fará(João 14:12)".

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sonhe comigo um sonho lindo no inverno


Sonhe que a primavera será mais quente do que foi a anterior, e as flores terão mais vigor. Sonhe que os pássaros estarão por aqui, e todo o verde reluzirá com o orvalho da manhã, refletindo a luz do Sol. E o azul do céu se refletirá no lago de frente para a nossa casinha, e as nuvens parecerão estar boiando na água, como espumas do nosso banho no final do dia.

E em seguida, sonhe que o verão será intenso, fervilhante, e o sorriso que daremos um ao outro ao nos refrescar sob uma chuva fresca num fim de tarde será o mais lindo de todos os tempos. Sonhe que quando a noite cair, levaremos nossos corpos à loucura em alguma pista de dança qualquer, onde você me abraçará e cantará no meu ouvido a música que aquele DJ qualquer estiver tocando. E na madrugada, voltaremos exaustos para casa, mas não dormiremos até matar o calor do verão sob lençóis.

Mas quando o outono vier, prepare-se para sonhar com todos os amigos chegando a nossa casa. Todas as conversas animadas na sala de estar, ao som de boa música e muitos sorrisos. Sonhe com uma mesa farta de jantar, o orgulho estampado nos olhos com a felicidade de podermos oferecer este conforto. Sonhe, sobretudo, com a paz que teremos entre nós...

Pois é no inverno, quando as coisas realmente esfriarem, e o banho tiver que ser rápido e quente demais, e o dia ficar curto e triste, sem sol, sem visitas, sem saídas noturnas... é nesse inverno que deveremos nos abraçar sob os cobertores e nos lembrar: temos um sonho juntos, neste inverno, que vai se realizar, certamente, na estação que vem.

Faz de conta que não vi...


Enxergo naqueles momentos mais discretos, mais sem propósito, qual era o propósito. Eu vejo nos olhares das pessoas uma realidade que buscam disfarçar. Eu entendo quando dizem alguma coisa pela metade. Ou quando se calam subitamente, tentando disfarçar alguma coisa que iam dizer. Eu vejo tudo isso, e geralmente entendo. Mas finjo que não.

Vivo dizendo que está tudo bem, e que comigo, tudo vai ficar bem. Se me apertar, dou um pouco dos meus problemas, mas não todos. Apenas o suficiente. Como a lagartixa, que deixa pra trás um pedaço do próprio rabo, pra despistar o predador... Não consigo deixar que me conheçam tão completamente, mas gosto de fazer pensar que conhecem.

Por outro lado, gosto de conhecer as pessoas. Seu íntimo, suas idéias, suas amarguras, suas histórias... isso me fascina. E à medida que descubro mais sobre cada uma delas, me deixo ser descoberto também. É uma relação de troca constante... diga-me quem tu és, e eu te direi quem sou. Senão, vamos vivendo nesse baile de máscaras, afinal a música está boa e a bebida é de graça!

Ao contrário da Alice, eu não sigo o Coelho Branco quando ele aparece. Mas ele sempre aparece... uma hora ou outra, eu pego ele, e nem preciso cair no buraco pra isso.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Eu olhei pra trás...


Eu não consegui acreditar nos meus ouvidos quando você disse “não”. Eu fiquei por um tempo olhando a xícara de café sobre a mesinha do shopping, pensando: “eu não entendi... ?”. Eu perguntei duas vezes, depois, o que significava seu “não”. Por que meu cérebro, sempre tão rápido, se recusava a digerir o que estava recebendo de informação. Seu “não” não podia ser compreendido... e você apenas confirmou. Era “não”.

Eu levantei, sem saber direito o que estava fazendo e caminhei. Levei a mão ao rosto numa tentativa de segurar as lágrimas. Fui andando na frente, olhando para cada vitrine, buscando alguma coisa para focar a atenção. Mas meus ouvidos ficavam atentos. Eu queria ouvir você chamando meu nome, me puxando pelo braço, e me dando um beijo de filme no meio do shopping. Eu queria ouvir você dizer que se equivocou, que na verdade era “sim”, e que eu teria seus braços para me envolver sempre que precisasse de carinho.

Quando você veio caminhando ao meu lado, num silêncio mortal, eu fechei os olhos e o peito. Queria engolir meu coração, tomando o cuidado de mastigá-lo bem, que era pra ele parar de me infernizar. Então você me perguntou se eu gostaria que você me esperasse, no ponto de ônibus. Poxa! Eu queria dizer “sim”... e mais: “Fique comigo não só no ponto de ônibus. Fique comigo por mais tempo. Deixa eu mostrar que isso pode dar certo”. Mas só consegui te lançar um olhar lânguido, e você disse “entendi”. Mentira... não entendeu foi nada!

Aí você me ofereceu um abraço, e naquele momento eu morri por dentro. Como eu te abraçaria afinal? Se eu fizesse isso, meu corpo todo te amarraria, e talvez eu não te largasse jamais, até você me dizer: “calma, vai ficar tudo bem! Eu não vou te deixar mais...”. Eu pensei em te abraçar uma última vez, mas fiquei com medo.

E você foi caminhando, com altivez, talvez feliz por ter se livrado de mim. Talvez o mundo tenha ficado mais leve pra você, e as pessoas mais coloridas. E eu fiquei olhando você atravessar uma praça e pensei: “não! Por favor, não”. Eu queria que você me olhasse de longe, e quem sabe voltasse, correndo, me dizendo que “tudo vai ficar bem! Calma, não vou deixar você”. Então me lembrei de como você me chamava de “dramático”. Eu quis rir... Mas você foi embora, sem olhar pra trás. Então chorei.

Eu comecei a chorar no ponto de ônibus, enquanto isso, as pessoas viam minhas lágrimas. Um grupo de garotos riu da minha cara, mas nem liguei. Uma moça pareceu compadecida pela minha situação, mas ninguém me deu um abraço de consolo. Foram os mais longos 30 minutos da minha vida, até que o ônibus chegou. Bem, confesso: eu olhei para trás, na janela, enquanto o ônibus partia. Eu queria, quem sabe, ver você voltando, com uma flor na mão, me dizendo que foi tudo um engano. Eu quis me dar um tapa, para deixar de ser tão sonso e sonhador. Chorei a miséria da estrada inteira, até chegar aqui...

Dentro de casa, sozinha e fria como uma tundra, me entreguei a mais prantos. Tudo o que eu tinha agüentado até agora, eu desmoronei. Pois o que tenho em minhas mãos? Me resta a distância da família e dos amigos, e mesmo aqueles amigos que você diz que são mais próximos, agora estão distantes. Também tenho uma empresa num buraco enorme, em que vou ter que lutar para recuperar (com que ânimo?)... além disso, me restou uma vida miserável, em que tudo dá errado... e agora, não tinha mais você. E então... solidão!

Resolvi te ligar e perguntar: “O que eu vou fazer agora, se num momento como este eu ligaria pra você e pediria ajuda? Como vou ligar agora pra você, e dizer que gosto tanto de você, e que mesmo assim você não me quer?”...

Agora, assim como foi no ônibus, eu fico olhando pra trás. Fico vendo o passado. Olhando aquela gueixa de porcelana sobre minha cômoda, e o incensário em forma de dragão. Coisas que você adivinhou que eu gostava tanto. Fico olhando pra trás... e choro... Será que você vai surgir outra vez e me resgatar? Acho que não...

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O Sinopse de Sinapses recebeu o "Prêmio Dardos" de alguém muito especial, a doce Camila, da Sombra do Mar.

Recebe este selo os blogs e seus blogueiros que transmitem valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. Que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Recomenda-se que, quem recebe o "Prêmio Dardos" e o aceita, siga algumas regras:

1. Exibir a Distinta Imagem,
2. Apontar o Blog pelo qual recebeu o prêmio;
3. Escolher uma quantidade de pessoas de sua preferência e um blog de cada pessoa escolhida para oferecer o "Prêmio Dardos".

Ofereço o prêmio, então, aos blogs:
Mãe[teiga] Derretida
Devaneios de uma Viciada em Paixão

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Eu preciso ouvir...

Eu preciso ouvir a respiração e o coração no seu peito, bem perto do meu ouvido. Isso me acalma, diminui a sensação de solidão, e mesmo que você não esteja assim tão por dentro de todos os meus problemas, me convence de que não estou sozinho.

Eu preciso ouvir sua risada. Ela enche meu rosto de sorrisos, preenche meu coraçãozinho de paz. Me faz acreditar que alguma coisa está bem, ou que pelo menos vai ficar bem. Ouvir o seu riso me deixa mais tranqüilo... me mostra que nem tudo é caos, destruição e mágoas.

Eu preciso ouvir de você, que tudo vai ficar bem. Mesmo que não tenhamos respostas para os problemas atuais, ouvir você me dizer que tudo vai acabar bem, enche meu coração de esperanças. Me ajuda a ter forças e acreditar num final feliz, seja ele qual for. Isso se chama APOIAR!

Eu preciso ouvir que você gosta de mim. Não minta e não diga nada que você não sente de verdade. Não quero ouvir que você sente “amor” ou “paixão”. Não é isso! Só preciso saber, com sinceridade, se você REALMENTE gosta de mim, ou se dorme comigo apenas para passar seu tempo. Se você quer o meu bem, eu preciso saber, o quanto você quer ser importante pra mim.

Eu preciso ouvir como vai você. Me contorço todos os dias, preocupado, se você está bem, se comeu, se dormiu, se conversou com as pessoas que você gosta de conversar e desabafar. Fico pensando se você não está precisando de nada, se você não está precisando ouvir meu coração ou minha respiração, ou ouvir meu riso, ou ouvir “vai ficar tudo bem”, ou ouvir um “Eu Te Adoro”... Por isso, às vezes, te ligo, só pra contar como estou. É uma forma de participar da sua vida, tentar ser importante pra você, tentar te tirar dos problemas que já atormentam sua cabeça.

Tem coisas que eu desejo dizer, do fundo do meu coração, mas eu calo. Pois não sei até que ponto você tem condições de ouvir. Então quebre este gelo e permita-se envolver... diga qualquer coisa, mas diga, deixa eu te ouvir.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Um sussurro...


Depois que se passa algum tempo em silêncio, percebe-se o poder da própria voz. É quando o som rompe as barreiras e vibra as cordas, nos fazendo assustar com a força de uma simples palavra. Neste instante, a maioria de nós se recolhe, instintivamente, no seio do medo e da timidez, onde descobre uma outra forma de se expressar: o sussurro. Quando sussurramos há a sublimação da comunicação... o efeito subliminar...

Os olhos sussurram, quando fitam a beleza em silêncio, percorrendo os desenhos de rosto, os traços do corpo e os sinais dos poros. Estes olhos sussurram quando olham para baixo, tentando buscar o chão quando ele insiste em sumir. Olhos sussurram, quando percebem, de longe, que alguém lhe atirou um beijo no meio de um momento ruim.

Lábios também sussurram, quando delicadamente se abrem num sorriso. Revelam, baixinho, que há algo de bom acontecendo, mesmo que o rítimo seja brusco. Lábios sussurram segredos, quando a língua os invade de dentro pra fora, desenhando os limites do lábio no rosto. Mas declaram desejos, quando envolvem a pele sem nada a temer.

Vendo os sussurros do corpo aprendi a ouvir o sussurro da felicidade. Ele é audível quando se perde o medo de perder. Quando não importa mais se ter ou não ter... vira apenas uma questão. A felicidade estará ali, por que nasceu uma nova forma de ver o mundo. Hoje ela sussurra que seu maior segredo é não precisar de ninguém, a não ser de si mesmo. Antes eu não conseguia ouvir, agora simplesmente sei... só me falta seguir sua voz.

domingo, 4 de julho de 2010

Não me entenda mal...


... mas estou fazendo voto de silêncio.

Pra mim ficou claro que expressar-se, não significa ser compreendido. Nem tudo o que é dito ou escrito será entendido pelos outros da maneira como se quis apresentar. Apenas quem nos conhece até o fundo da alma, consegue enxergar o que se passa nas palavras usadas. E quem não conhece, só pode fazer pré-conceitos, pré-julgamentos. E como num "preconceito", o pré-conceito nem sempre corresponde à realidade.

"[...] Me olha da onde estiver. Que eu vou te mostrar que eu to pronta, me colha madura do pé." (Dona Cila - Maria Gadú)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Walkover (ou W.O.)


Já sei namorar, já sei beijar de língua, agora, só me resta sonhar. Já sei onde ir, já sei onde ficar, agora, só me falta sair [...] Já sei chutar a bola, agora, só me falta ganhar. Não tenho juiz... se você quer a vida em jogo, eu quero é ser feliz!

Eu não quero ganhar, não estou aqui para competir. Minha intenção é somar e provar que eu posso ser seu, incondicionalmente. Quero mostrar para todo mundo que você é a pessoa mais forte que existe, que você pode conquistar o mundo inteiro com essa sua cara de quem vai matar alguém. Quero que as pessoas percebam que você tem mais poder do que aparenta e uma alma com coração muito maior do que se imagina. Eu sei do seu potencial, sei quem você pode vir a se tornar, e eu quero ser aquele que vai estar do seu lado, alimentando o fogo que te fará ter tanto poder.

Eu não estou aqui, do seu lado, para competir com você. Quero atravessar, junto, a linha de chegada. Quero entregar em suas mãos todas as ferramentas que eu sei que são necessárias para que alguém se torne um verdadeiro Deus neste mundo. Eu sei que posso te guiar no caminho que leva qualquer pessoa a se tornar um ser melhor. Sei que posso te ajudar a ser maior e mais forte. Sei que posso te ajudar a lidar com seus problemas, medos, traumas, fragilidades e até com sua tensão. Eu sei que posso te ajudar a aliviar as tensões...

O fato de eu estar aqui do seu lado, tão calado, é que eu não quero que você perca seu brilho, sua majestade. Eu me orgulho quando vejo você expandindo seus horizontes sobre os horizontes dos outros. Não quero poluir sua alegria com a minha melancolia, ou meus problemas. Acho que nós dois, juntos, podemos nos tornar uma equipe implacável. Podemos ser um exército de dois soldados, e conquistar o mundo!

Basta você me permitir ajudar. Pois eu também não estou afim de perder. Quero fazer você ganhar sempre da vida e do destino, e a única coisa que peço é um abraço de comemoração no final. Quero que saiba, quando você vencer na vida e ainda estiver ao meu lado, que você foi meu projeto de vida. Portanto, eu mereço pelo menos um beijo.
Quero que mantenha sempre isso em mente: posso ser sua bateria ou fonte de poder se me deixar fazer isso por você... mas até eu vou precisar de recargas. Um afago.

sábado, 26 de junho de 2010

Aconteceu: quebrei!

Ando tão à flor da pele que qualquer beijo de novela me faz chorar. Ando tão à flor da pele que teu olhar "flor na janela" me faz morrer. Ando tão à flor da pele, que meu desejo se confunde com a vontade de não ser. Ando tão à flor da pele que a minha pele tem o fogo do juízo final... (À Flor da Pele - Zeca Baleiro)



Hoje acordei e minha pressão já estava em 14/9. Na farmácia, pedi que medissem minha glicose naqueles aparelhinhos onde se fura o dedo, e o número foi 120. Sentado naquele sofazinho impessoal da farmácia, com o braço estendido sobre um suporte, pensei: quebrei! Não é a primeira vez que eu “quebro”, paro de funcionar direito. Mas sempre que isso acontece, inaugura uma nova fase de minha vida.

Eu tenho esse maldito hábito de racionalizar tudo e todos. Falo pouco sobre o que realmente penso, mas meus olhos e ouvidos captam muita coisa. Estou sempre ali, quietinho, inofensivo, observando... e minha mente trabalhando. Quando falo alguma coisa, passo o texto todo por alguns filtros para que não entendam exatamente o que eu estou pensando, e sim aquilo que eu quero que entendam – e estes mesmos filtros eu uso para escrever, e estou usando nesse momento inclusive.

Em outras palavras, eu manipulo meu jeito e minha fala, dissimulo. Me censuro pois acredito que ninguém gosta de ouvir o que eu realmente quero dizer, então tento tornar mais agradável o que está aqui dentro. Mas o fato é que não consigo disfarçar meus pensamentos. Não para mim. E ultimamente tenho pensado bastante. Mais que o habitual.

Tenho buscado razões, motivos, prós e contras de eu estar fazendo “tudo isso”. Tudo isso, mesmo! E o que eu tenho encontrado é entraves. Conflitos que eu nunca esclareço, nunca falo, sempre engulo.

Nada mais natural, então, que uma hora ou outra, tudo isso exploda na minha cara... ou mais especificamente, no meu organismo! E uma profusão de hormônios estressados caminham pelos meus sistemas, desarranjando glândulas e outras funções, elevando minha pressão, embrulhando meu estômago ou mandando pros quintos dos infernos a minha propensão ao diabetes.

Quando isso acontece, eu sei: é hora de por pra fora. É aí que tudo muda. Aí me verei solto, e cada um que cuide de sua metade da culpa ou do pedaço de mim que voar pela janela... Mas ainda não... vou segurar mais um pouquinho, só pra elevar um pouco mais esta pressão.

Você pode me ver do jeito que quiser, eu não vou fazer esforço pra te contrariar. De tantas mil maneiras que eu posso ser, estou certa que uma delas vai te agradar... Porque eu sou feita pro amor da cabeça aos pés e não faço outra coisa do que me doar. Se causei alguma dor não foi por querer, nunca tive a intenção de te machucar. Se teu santo por acaso não bater com o meu, eu retomo o meu caminho e nada a declarar. Meia culpa, cada um que vá cuidar do seu. Se for só um arranhão, eu não vou nem soprar... (Rosas - Ana Carolina)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Quando o dia morre


Sutil, é a morte de um sentimento. Raramente temos a dimensão de que um sentimento está morrendo. Num instante até mesmo um cílio repousado sobre a pele do rosto era um detalhe que chamaria atenção, e provocaria uma tribulação nos sentidos, compelindo-nos à mover forçosamente a mão para livrar um rosto daquele pequeno traço em desarmonia. No outro, um corte que rasgue a peito de cima abaixo, é apenas um corte.

A luz do Sol deixa de tocar os objetos conferindo-os com cores vivas, e torna-se apenas uma luz. O dia azul fascinante e sorridente se torna apenas mais um dia. E a falta de um sorriso diário que provocaria lágrimas copiosas, se torna apenas... comum. Sutileza é o termo que define quando um sentimento morre.

Sensíveis são aqueles que percebem este momento. Notam as cores se desfazendo. Notam os momentos perdendo a importância. Notam os erros que cometeram e como tudo se perdeu por besteira. Por medo. Por insegurança, ou excesso de segurança. Quando morre um sentimento, morre o dia... e toda a semana volta a ter o mesmo sentido que tinha, antes de qualquer coisa nascer no universo. Era apenas um dia.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

5 tentativas de Hai Kai


#1
Gosta a solidão
de acordar toda noite
acompanhada.

#2
Fita as dívidas
sentada na cadeira
chora límpida.

#3
Tendo todo o mar,
ela na praia teme o
ato de nadar.

#4
Menino sonha
empinando amores
largar a pipa.

#5
Mãe dividida -
culpa o ir do amado
e o filho chora.

O Hai Kai é um estilo poético trazido pelos japoneses que consiste em formar poesia em três versos, contendo 5 sílabas poéticas no primeiro, 7 no segundo e 5 no terceiro. Opcionalmente, deve-se representar uma estação do ano com alguma palavra relacionada (flor = primavera, sol = verão, etc). Não há obrigação de rima ou título, mas usa-se, ainda, rimar a última sílaba do primeiro verso com a última sílaba do terceiro, e no mesmo Hai Kai, rimar a segunda sílaba do segundo com a última da mesma linha. O objetivo, enfim, é dizer tudo de maneira simples, no menor espaço.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Questão de sobrevivência!


Cães brigam por comida. São instintivos, individualistas, brigam por aquilo que precisam, como o alimento por exemplo, e são incapazes de atitudes “humanas”, como a partilha. Seres instintivos e pouco evoluídos mentalmente agem pela própria sobrevivência, pelo próprio sucesso, para conseguir pelo menos mais 5 minutos de superioridade sobre os outros. Trata-se de um instinto de sobrevivência, egocentrismo de subsistência, uma forma de se manter.

Quando atingiu um posto mais elevado na cadeia evolutiva, entre o polegar opositor e o cérebro maior, o homem adquiriu a generosidade, a clemência, a “humanidade”. O homem que só consegue pensar em si mesmo, no próprio sucesso, no próprio sustento, no próprio prazer, não é digno de ser chamado de “humano”... cães brigam por comida. Homens, teoricamente, não.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Um monte de coisas que estavam aqui

Autosuficiência

Ser a arma, a bala e a roleta russa. O ato e o fato em si.
Ser vítima e a causa mortis. O assassino e a misericórdia.
Ser quem é, e mais alguém que lhe sustente.
Ser por si o que não podem ou não querem ser.
Ter mais força que apenas um.


Bel Prazer

Basta seu olhar e minhas mãos transpiram loucamente.
Voam, desesperadas, as borboletas em meu estômago.
Sua mão levemente repousa sobre meus ombros,
e como ordens incontestáveis me poe de joelhos.

Você me abraça, sinto o toque de sua pele ao redor do meu corpo.
Sinto o peso de seu corpo sobre meus músculos.
E meu suor fatigado me faz sentir que só sirvo para servir aos seus propósitos,
até egoístas, que exigem cada vez mais...

Assim as horas deslizam entre as fibras da carne como espada afiada.
Sem ferir ou chorar, o golpe consola a alma inquieta e desejosa.
Insolentes, as línguas invadem as bocas das quais não pertencem,
e dançam, loucas, despertando o demente, maldito e criativo sentimento,
que gera vontade e impulso em ser um só com você.

E quando você se afasta, como quem não se importa ou não quer mais,
é quando mais me desespero e me aguço.
É quando uso todo meu talento pra te cativar, antes que desista de mim.
É quando mais brilho e me divirto, ou mais sofro e morro.
Tudo isso, pois você já sabe que tem o dom de impor a ordem em mim.

Me torno o pedaço da vida que você mastiga, suga e degusta.
São pernas, mãos, braços e lábios que se partem e abrem,
com olhos apertados e gritos abafados.

Sei que sou um preço alto, mas vai por mim: bem pago!
Penso que é por isso que me deleito em seus cabelos, surpreendendo a mim mesmo.
E vocÊ, que sempre manda, ainda há de se ver obedecendo.
É aí que meu jeito coadjuvante roubará a cena, virará o jogo.

Até lá, estou ardendo em febre, sem querer me curar.


Eu sinto muito

Eu sinto muito, e não tenho como ser diferente. Pois quando sinto, não apenas tenho o sentimento. Eu o vivo tão intensamente, que me torno ele, mesmo que meu rosto esconda-o dentro de mim, para ninguém perceber. Mas atualmente não consigo mais separar o bom senso do meu lado emocional. Tudo o que tenho que sentir, simplesmente descarrego em minhas expressões, e sem querer “dane-se” quem estiver por perto.

Se me der tristeza, vou chorar com a expressão de quem sente uma dor excruciante. Não terei medo de que me olhem, ou me achem fraco demais, por chorar tanto assim. Vou simplesmente lavar a alma, cuspir cada mililitro do fel que estiver dentro do meu peito, e ninguém mais vai ser capaz de me parar. Até limpar a alma.

Se me der felicidade, vou chorar com a expressão de quem viu um anjo. Não me importo mais de parecer um bobo, feliz, que sorri o tempo todo e para todo mundo. Não ligo se me acharem estranho por estar tão otimista em tempos de guerra, ou tão divino em tempos de destruição. Vou sorrir e rir tanto, que meu estômago vai doer, e meus pulmões falharão... então eu paro, inspiro profundamente, me recupero, e começo tudo outra vez. Até preencher a alma.

E se me der prazer, vou me deleitar como quem não teme o inferno, que é para onde vão os luxuriosos. Me derramarei no hedonismo de minha essência, e deixarei que meu corpo dite as regras do que me faz bem. Se tiver que gritar, gritarei, e minhas mãos procurarão algo por perto para apertar. E de punho cerrado, vou esmurrar a parede ao meu lado, como forma de descarregar todo o prazer que não couber mais no meu sistema nervoso. Vou me entregar completamente. Até gozar a alma.

E quando eu amar, não vou me calar. Não posso passar o resto da minha vida temendo o sentimento mais puro e divino que pode existir. Amar não é pecado, ou errado, ou arriscado, não. Mesmo que não receba isso em troca, vou amar até minha vida perder o sentido se não estiver ao lado de quem amo. Vou entregar minha felicidade em uma bandeja, feliz da vida, em ver que outra pessoa estará com ela em mãos. Por que, pra mim, ser feliz não é estar bem, com tudo bem... é amar alguém! Até a alma.


Abraço Apertado

Um abraço a todos aqueles que forem disso. A todos aqueles que entendem a explosão sincera que parte do peito, dialoga com os músculos e transcende a gente, nos fazendo abrir os braços e o peito para receber alguém. Quero desejar o abraço, por que ele conforta, protege, e transmite pelo sistema nervoso, expressado na flor da pele, toda a energia que temos para o outro. Abraçar é uma forma de recarregar as baterias depois de um dia fatigante de trabalho. O abraço é uma forma de mostrar que o mundo do lado de fora não vai entrar, e o ninho onde se está é seguro.

Eu não vivo sem abraço. Quando fico sozinho, não é o medo que me atormenta, é a solidão. Por isso eu toco em todos aqueles que amo e quero bem. Se caminho ao lado, coloco minha mão no ombro, não mão, no braço... quero segurar as pessoas que gosto, para que minhas mãos se lembrem sempre da pele e do calor.

Tocar é tão essencial, que os bebês que não são tocados pelas mães são fracos. As crianças que não são afagadas, ficam violentas. Os adolescentes que não recebem abraços, ficam medrosos. E os adultos que não abraçam ficam frios, distantes e velhos...

Um abraço apertado é uma forma de expressar o quanto queremos bem. E receber um desses, é um dos poucos momentos em que podemos nos sentir mais frágeis e nos lembrar da nossa condição como humanos. Como pode alguém não gostar do abraço, se no fim, desejamos estar nos braços amorosos do Pai?

Quem tem medo de abraço, tem medo de se conhecer, medo de gostar e perder, medo de perceber que se pode ser fraco por cinco minutos e conquistar o mundo logo depois. Quem não gosta de abraço perde tempo, perde vida, perde força, fica sozinho.

Geralmente, gente assim, quer ficar triste pro resto da vida e reclamando da própria falta de sorte. Quer platéia e espera ansiosamente que alguém venha abraçar. Mas quando isso acontecer, vai negar, por que acha bonito ser triste.


Educação Sentimental

Sei quem eu sou e sei como posso ser. Sempre me vangloriei de me comportar da maneira correta em todos os momentos. Mas desde que vi você, virei do avesso.

Tenho tudo ensaiado para te conquistar. Sei quais palavras devo dizer, o que fazer, quando fazer e como te fazer compreender o que penso e sinto. Mas quando te vejo, falho, travo, e faço cada coisa estúpida que depois me pergunto: “como pude ser tão idiota?”. Me sinto idiota perto de você... bobo... sem corte... completamente fútil e vazio.

Não sei o que fazer pra te agradar, te divertir, te preencher. Exagero muito, eu sei, tentando te agradar, mas poxa... basta demonstrar que estou sendo eficiente ou não, e juro que paro com isso. O que me desgasta é não saber o que você sente, se está bom de verdade, ou se está apenas me aproveitando.

Quem sabe, se me der a resposta, não vai conseguir extrair de mim o que tenho de melhor? E eu, finalmente, poderei voltar a ser eu... “o tal”.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Parto do Princípio (ou Fobia do Começo)

Não. Geralmente quando começo alguma coisa, parto do meio pra frente. Não gosto do princípio, do início, do terreno novo, do começo. Sou incrivelmente resistente às mudanças e morro de medo dos perigos da largada. Por isso gosto de entrar nas coisas quando elas já estão encaminhadas por outras pessoas, onde eu apenas pego um bonde andando e tento manter a direção ou melhorar o caminho. Mas “começar” nem sempre foi algo que eu tenha escolhido fazer...

Desde que me conheço por gente, nunca comecei nada. Sempre fui pego de surpresa por algo que havia tido seu início antes, e veio pra cima de mim. Nunca gostei de começar coleções de figurinhas, exemplares de revista, CDs, nem comecei a assistir séries de TV... pois das novelas que comecei a assistir, não vi o final. Eu nunca terminei nada do que comecei, por isso tenho medo de começar.

Por isso sempre tive medo de começos. Prefiro a segurança da rotina, onde você não precisa ter medo do que vem amanhã. Você sabe que é a mesma coisa que aconteceu ontem, e hoje também. A rotina nos dá segurança, paz de espírito. Basta manter diariamente o que já está bom. Acho que é por isso que eu atropelo fases, leio revistas de trás para frente, e sempre perco o começo dos filmes. Quero ir direto pra onde eu me sinta confortável.

Entretanto, em tudo aquilo em que eu entrei, mas já estava caminhando de alguma forma, consegui contribuir significativamente. Participei com empenho e dedicação, e muitas vezes fui elogiado pelas transformações que proporcionei. Para mim sempre foi mais fácil dar continuidade e um bom final, do que começar algo.

E no meio do meu caminho, eis que surge alguém que me pede pra ficar tranqüilo, e curtir as coisas desde o começo. Que desespero me deu. E se, como nas outras vezes, eu não conseguir manter o que comecei? E se eu perder tudo o que comecei, por que não sei dar continuidade naquilo que dou início?

Eu não parto do princípio, pois gosto do meio. Quero ir direto para a segurança, confiança plena, onde já se conhece tudo e todos, e não se tem mais o que temer. Se querem que eu comece do início, vou precisar de apoio... vou precisar de alguém pra me guiar até a metade do caminho. De lá em diante, pode deixar comigo, é que ali é meu terreno, e à partir daquele ponto eu tomo conta, e nada vai ter que acabar!