domingo, 31 de janeiro de 2010

O tempo não é uma linha que se segue sempre para frente

O ser nasce, cresce, vive de acordo com o que acredita e de acordo com o que os deuses permitem, morre, e reencarna. Então o ser nasce, cresce, vive de acordo com o que acredita e de acordo com o que os deuses permitem, morre, e reencarna. Então o ser nasce, cresce... Este é o Ciclo da Vida, o Sâmsara.

“Em sua infinita piedade e generosidade, Deus nos permite viver novamente, sempre, afim de que nos aprimoremos”. Esta é a visão que se tem sobre a crença da reencarnação. Mas qual é o objetivo de se viver de novo, de novo, de novo e assim por diante? Ele quer que olhemos para o lado! Olhemos para além deste ciclo. Ele quer que transcendamos esta necessidade fútil que é viver como seres materiais. Esta vida que levamos e os problemas cotidianos, não são importantes. No fim, são nossos sentimentos e pensamentos que realmente ditam alguma coisa em nossa existência...

Trazendo o conceito para a vida “prática”, observamos que vivemos criando existências, mundos, e depois mergulhamos nessas existências para vivê-las. Criamos expectativas, criamos sonhos, promessas particulares, pontos de vista... só para depois vestirmos esta roupagem e pensarmos que sabemos quem somos. E o processo de criação desta vestimenta é penoso, é doloroso. Quase sempre nos desgastamos física e emocionalmente, e sempre desgastamos as pessoas que incluímos em nossos sonhos e “mundos criados”.

E esses mundos que criamos para viver se desfazem, com freqüência. Eles se despedaçam, e nos jogam num limbo, no esquecimento. Num plano onde tudo e nada coexistem, mas não possuem importância. Um mundo onde o que importa é só você. Quando perdemos o chão, esta é a oportunidade de nos livrarmos da necessidade de criar mundos para viver, vermos tudo do lado de fora. Mas também frequentemente criamos um mundo novo. Justamente por medo de encarar a realidade de que a realidade não existe.

Só quando descobrimos a efemeridade dos nossos atos, de nossas vidas, e compreendemos que tudo é passageiro e ilusório, alcançamos a importância maior. Esta é a Iluminação. Poder dar um passo para o lado e enfim observar toda a fila de vidas, de pessoas que vivemos e fomos. Deixar de ter em nosso campo de visão apenas a nuca do futuro, ao qual não conheceremos o rosto, e poder ver toda a extensão do ciclo, até onde ele vai, quem são os futuros ao longo dele. Iluminar-se é poder pular fora da fila, e poder caminhar por onde quiser, pois o tempo deixa de ser uma linha que se segue sempre à diante... mas sim um emaranhado de direções em que podemos habitar. Não se torna mais apenas o caminho imposto, onde o ser nasce, cresce, vive de acordo com o que acredita e de acordo com o que os deuses permitem, morre, e reencarna...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Deus: Eu lhe devo desculpas...

Noite passada eu chorei, de novo. Senti no peito a dor acumulada das perdas que tive durante os últimos períodos. Revi películas das quais me doem a alma hoje em dia, de planos e realizações que busquei, e “quase” conquistei. Sofri por pensar que teria sido mais fácil, e não foi. Desejei que as pessoas que estiveram em meu caminho tivessem sido mais fortes, ou mais sábias, ou que tivessem me acordado mais cedo para que em minha infinita ignorância eu mesmo tivesse tomado providências. Mas não fomos eficientemente suficientes.

Chorei, sobretudo, por toda esta esperança da qual me muno quase sempre. Pelos sonhos mortos nas batalhas cotidianas, e que sequer receberão uma medalha de honra. Sequer receberei uma medalha pelos sonhos mortos, para tentar me consolar. Só chorei implorando perdão por mim, a mim.

E ainda chorei pelas perdas que um dia terei. Pelas pessoas que me deixarão um dia, e como farão falta. Tentei desviar o pensamento destes fatos, mas é tão difícil fazer isso quando se está sozinho, e não se tem alguém do lado para conversar. A solidão foi mais fiel que qualquer pessoa em minha vida. A solidão nunca me deixou sozinho. Então, do meu lado, ela me abraçou. E eu chorei.

Senti o nó no pescoço apertando, e a ausência de pessoas para um abraço. Quis ligar no meio da madrugada para mil e um parentes e amigos, mas foi como ter um milhão de garfos quando se precisa de uma faca. No final das contas, percebi que assim era a vida, e que se acontecesse de a perda vir bater em minha porta novamente, só me restaria sentar e chorar, e acordar no dia seguinte para viver um pouco mais. Então as lágrimas simplesmente rolaram soltas, e eu, feito uma criança escondida debaixo do edredom, fiz o que me restava fazer: rezei.

Noite passada eu chorei. Mas acho que, na dor, encontrei Deus...

sábado, 9 de janeiro de 2010

Deus: Você me deve uma bela desculpa! ¬¬

Como se fosse um sonho, a mulher mais perfeita me apareceu numa tarde dessas qualquer. Poderia ter sido um momento comum, como outro qualquer. Poderia ter sido um papo, ou um curso, como outro qualquer. Mas seus olhos e seus pensamentos não eram qualquer um. Num instante, sem querer pisquei, e me distraí, e já tinha sido transformado num cara apaixonado... um apaixonado qualquer.

Ela me dominava com aquelas palavras doces e voz de elfo. Com uma beleza jamais imaginada por artista algum, hipnotizava minhas intenções e focava meus pensamentos naquele par de olhos só encontrados em retratos preto e branco. Seu corpo transmitia um calor, de longe, que incinerava a própria volúpia. Era razão de si mesma, simples e pura. E o meu desejo se manifestava em sorrisos, e jeito bobo de olhar...

Sem muito tempo para pensar, fui armando minhas palavras, racional, proposital, para lhe abraçar. Com um sorriso debochado e um olhar impactante, porém, ela desnudava minhas intenções, e me mostrava dia a dia, que ao contrário do que pensava, sou tão comum. Não resisti à sua forma doce de me revelar, me deitei em seu colo, e me deixei ninar... e sonhar.

Toda noite me oferecia um pensamento novo, uma nova forma de ver o mundo, e mais belezas do que eu poderia supor. Fez-me crer que o mundo era um lugar fácil de viver, e o universo, a coisa mais simples de conquistar. Fui caindo em sonho profundo, num sono tranqüilo. Vi beija flor em unicórnio se transformar...

Ontem, enquanto eu escrevia algo sobre a forma como ela me fez encontrar Deus, senti que ela saía de mim. Parecia feliz, ou um pouco perturbada, mas fiquei em paz. Curiosamente ela também falou de Deus, como se soubesse que eu escrevia algo sobre o Pai. Me deixou feliz saber que a sintonia ainda funcionava...