segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Consternado

Teria tanta coisa pra dizer, tanto argumento pra fazer você entender. Mas sinceramente? Acho que cansei. Chegou num ponto em que simplesmente não tenho mais vontade de que você entenda, e tenho a impressão que simplesmente deixar as coisas assim, vai me fazer sofrer menos. Sim, estou sendo condescendente, conivente com o fato de que você faz o que quer e é como é.

Eu jamais vou te pedir que mude. Muito pelo contrario, meu plano era aprender a lidar com você e suas “normalidades”. Mas eu também pensei que você fosse fazer o mesmo, me perceber, e este “pensar” foi uma espada que eu apontei pro meu estômago. Me parece que quanto mais eu abraço a sua causa, menos você percebe qual é a minha. E agora estou aqui, chorando, outra vez...

A solidão é uma coisa estranha, pois ela nos faz ver coisas boas em situações que a gente não costuma ver. Talvez seja isso... não há sentimento, apenas solidão. Ou talvez haja algum sentimento, um pequeno, que não resiste a tanto orgulho e arrogância. Eu sei lá... sou tão emocional que as vezes penso que todas as pessoas podem ser. Mas talvez você seja diferente!

Pode ser que você seja aquele tipo de gente que repele o sentimento como se afastasse uma mosca. Blasé. Indiferente. Frieza. Julga tão dispensável o “sentir”, que simplesmente não sente. Ou pior, pode ser que eu não tenha sido suficiente. Pode ser que tudo isso que eu chamo de “tudo isso”, não passe de um “nada”... que não consegue te despertar coisa nenhuma.

O fato é que fico frustrado vendo você no meu pensamento, como se um dia tivesse existido de verdade ao meu lado. E choro feito criança que não consegue alcançar o pote no alto do armário. Uma criança que já levou tanto tombo tentando escalar a estante, que não quer mais arriscar, tem medo. E vai ficar sentadinha no chão, chorando, olhando pra cima, admirando e querendo, aquele maldito pote... Condescendente... Conivente...

domingo, 26 de setembro de 2010

... estou só desde então!



Se eu me apaixonar, vê se não vai debochar da minha confusão. Uma vez me apaixonei e não foi o que pensei, estou só desde então.

Se eu me entregar total meu medo é você pensar que eu sou superficial. Se eu não fizer, amor, assim sem mais... Se você brigar e for correndo atrás de alguém, não vou suportar a dor de ver que eu perdi mais uma vez, meu amor.

Mas se eu sentir que nós estamos juntos, longe ou a sós, no mundo e além. Pode crer que tudo bem! O amor só precisa de nós dois, mais ninguém. Se você quiser ser meu namoradinho e me der o seu carinho sem ter fim, prá você eu digo: Sim!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Calada na noite

Na calada da noite, uma voz entorpecida pelo choro, ecoou num grito histérico. Daquele som entristecido, apresentou-se a fúria que grunhia dentro do peito. E numa nota antes não alcançada se fez ouvir. Agora ouça bem, pois este assombro vai ribombar nas cavernas escuras de seu coração, e esta voz que fala de amor e devoção não vai mais chorar, calada pela escuridão.

O seu solo acabou! Não contará mais com a minha participação. Sei que minha voz pode dar mais emoção à canção, então não vou fazê-la mais dormir. Escute bem, pois nessas notas eu estou imprimindo emoção. Nesse timbre trêmulo há, ao menos, muito mais canção do que em tudo o que você já se propôs a fazer.

Tentei de tudo para ser a harmonia nessa pauta, e quis compor para nós uma canção melhor. Mas de tudo, o que restou, foi o pior. Pois em nenhum show, na solidão, alguém se faz brilhar. Sendo assim, cansei! Não será por você que vou virar silêncio. Não será em sua melodia rabiscada que vou estragar minha voz. Não será pelo seu tom grave que vou deixar meu Soul sem alma.

Essa voz que eu pensei ter morrido, explodiu em decibel. Agora sinto as notas do que é minha canção, e quer saber? Ela toca agora sem você! Dos meus arranjos, fluem flores, e não há espaço para seu falsete. Seu timing me atrasou, mas não o suficiente. Pois agora, eu recuperei meu tom, e vou cantar!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Concedo-te 3 desejos!

Reclamo do que sofro, não para ter sua pena, e nem para que me mostre soluções. Eu sorrio quando vejo isso, pois este é o claro problema do ser. Há esta arrogância em acreditar que se pode curar todo mundo, fechar todas as feridas, abrandar todos os corações. Em momento algum eu reclamei de minha sorte, pedindo que você a mude. Não quis soluções. Não quero respostas, nem caminhos, nem alternativas.

Eu só quero que me ouça com carinho. Quero apenas um pouco da sua atenção. Quero que console meu choro copioso em seu abraço, me permitindo sentir seu perfume, que associarei ao bálsamo de meus sentimentos. Só quero que me dê um beijo, e um cafuné, que minha mente interpretará como a chave que vai destrancar minha calma e paciência, fazendo-as serem plenas. Não... Não resolva meus problemas, apenas me dê um pouco de amor.

Se eu tiver esta ligeira atenção, volto a sorrir. Volto a ter esperanças num amanhã melhor. Volto a acreditar que posso andar livremente por este vale de lágrimas, sem me molhar. Me permita sonhar. Me iluda! Me faça crer que as coisas vão ficar bem, não me deixe perder a tão aclamada esperança. Me faça crer que este é o melhor caminho, e que eu vou encontrar uma saída, uma resposta, uma solução. Eu sei que sou capaz disso... só preciso que você creia em mim.

Me transformo num gênio, para você. Só preciso que, entre seus três desejos, você peça para que eu seja feliz.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Enquanto o amanhã não chega...


Houve um tempo em que, quando um adulto se aproximava, e me acariciava os cabelos, eu me sentia feliz. Bastava um toque na cabeça, um sorriso e um “como vai, garoto”, e eu sorria em retribuição e corria feliz para meus brinquedos. O dia ficava mais divertido, os brinquedos ficavam mais legais. A vida ficava mais tranqüila, até o dia acabar, e eu esgotado, dormisse. Sorrindo. E era gostoso dormir...

Houve um tempo em que um “Bom dia, meu anjo”, seguido de um papo animado no café da manhã, já supria minhas necessidades. Bastava aquele momento único e tranqüilo, e todo o dia se tornava mais prazeroso. Os amigos da escola não me amolavam, as brincadeiras não me irritavam, as brigas não me estressavam. Eu seguia o dia com a confiança plena de que ao chegar em casa, eu estaria tranqüilo, dormiria sossegado, e outro café da manhã animado iria surgir. Era gostoso dormir...

Houve um tempo em que um “Eu te amo”, seguido de um beijo, sarava todas as feridas. O dia era estressante, o trabalho era exaustivo, as pessoas fustigavam meu humor com grosserias e violência. Tudo era maus tratos, arrogância, avareza. Mas eu me mantinha firme, sério, educado, compenetrado no que eu tinha que fazer e, modéstia à parte, eu fazia muito bem. Por que eu sabia que, ao cair da noite, debaixo de uma árvore numa rua escura qualquer, eu iria ouvir isso. E teria meu beijo. E eu voltaria curado do caos diário pra casa, e dormiria bem. Era gostoso dormir assim...

Houve um tempo em que um “Ei, cara... vamo tomá uma aqui na sacada? Chega aí!”, completava minha necessidade de prazer. O papo descontraído, a aceitação de minhas particularidades, as pessoas ao redor. Isso fazia esmaecer os problemas do cotidiano, como a falta que eu sentia de ouvir “Como vai, garoto” com a mão de um adulto sobre minha cabeça; ou a falta do “Bom dia, meu anjo”, no café da manhã; ou a angustia por ter perdido o “Eu te amo” debaixo do Oiti escuro, antes de dormir. Supria, em partes, mas ainda assim, me ajudava a dormir. E era gostoso dormir, depois...

Hoje, é um tempo em que não tenho mais a mão de um adulto forte sobre minha cabeça, como se fosse me proteger. Não tenho mais o amoroso “bom dia”, no café da manhã. Não tenho mais um beijo de boa noite, carregado de paixão. E nem tenho mais companhias para uma happy hour, a fim de lavar a alma pro dia seguinte... São dias e noites vazias, sem entusiasmo, sem ânimo, nas quais eu me arrasto como um velho peregrino, tendo na mão uma bengala chamada “paciência”. Hoje, eu tenho insônia.

Amanhã, creio eu, tudo pode mudar. Estarei de barba cortada, roupas lavadas, corpo curado. Terei o luxo de acordar de manhã, preparar o café, e dizer “Bom dia, meu anjo”, para quem acordar ao meu lado. Vou poder atravessar o mapa para reencontrar meus amigos, e convidá-los para uma “happy hour”, mesmo que seja uma segunda-feira. E nesse dia, provavelmente estarei com um presente nos braços, para entregar ao garotinho ou garotinha que estiver correndo pela casa da minha família. Ao entregar, vou tomar o cuidado de colocar minha mão sobre sua cabeça inocente, e dizer “Ei, como vai criança?”. E vou poder abraçar minha família com o coração acelerado, e não mais confuso como está, desejando uma boa noite de sono para todos.

E ao cair da noite, com um beijo apaixonado, eu diga “Eu te amo”, e durma bem. E sonhe com a época em que eu era aquele garoto que brincava alegremente.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Amor, Próprio Amor


Eu te amo. Mas agora, eu só te amo pra mim. Vou me abrigar sob as asas deste sentimento solitário, e vou senti-lo confortavelmente, como nunca fiz antes. Não adianta dizer mais nada! Não, eu não quero este amor em troca. Eu só vou sentir o que sinto, por que eu simplesmente sinto, até isso acabar.

A minha história é feita de amores que sinto, de amores que me movem, do combustível que me mantém vivo e aceso pra viver. E também é feita de lenhadores que não trazem a madeira, e de chama que míngua na lareira. Por isso, agora abro mão da ajuda alheia, que se vier é bem vinda... mas se não vier, eu não contava mesmo com isso. Vou amar, por que o amor está dentro de mim e quer sair.

Não vou mais gritar, não vou mais chorar. Não quero mais desabafar. Vou apenas sentar no canto escuro da minha alma, confortavelmente, e sentir todo o amor do mundo que puder. Vou escrever todas as cartas românticas que puder, sem assinar um nome de destinatário. Vou amar intensamente, sem saber a quem. Pronto! Agora amo uma idéia, um ser abstrato. Vou amar um alvo na parede, e deixar este amor fluir.

Descobri que todo mundo que ama libera um pouco de amor na atmosfera. E isso gera uma espécie de nuvem psíquica, uma “piscosfera” de amor. Ela caminha pelo mundo feito uma tempestade vermelha, trovejando, obscurecendo o sol. E cada um aqui no solo que se sintoniza com ela, recebe uma descarga sobrenatural de tanto amor. Eu quero que mil raios de amor atinjam minha cabeça, até que eu pire nas chamas de uma paixão enlouquecida. Por isso vou amar em segredo.

Vou amar quietinho, no meu canto, no meu antro, no meu refúgio. Meu santuário terá um pequeno altar com velas e rosas vermelhas, um prato de prata e uma adaga de ouro. Um cálice de cristal puro vai ecoar o som do vinho derramando, e meu coração em oferenda sobre o mel vai adocicar meus sentimentos. Aprendi que o amor é uma magia, ou um mago. Então quero ser seu avatar.

Possua-me amor, eu libero meu coração e meu corpo para sentir todas as agruras que disponibiliza para seus seguidores. E quando acabar comigo, vou poder dizer: Eu amei ao menos uma vez! Não saberei a quem, mas terei amado. E quando morrer, minha essência vazará entre meus dedos e fluirá para integrar-se à nuvem de amor que paira pelo mundo.

Talvez minha alma se transforme num dragão vermelho escamado rubi, que cospe fogo e desejo, que lambe a alma dos outros e vira os olhos de prazer. Talvez eu devore a alma de quem amar também. Pois o amor destrutivo assim, eu sei sentir.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Por favor, só não pise no sofá!

A gente resolve sair um dia, e passear pelo mundo com uma mochila nas costas. Muitas vezes carregando nada mais do que algumas trocas de roupas, um MP3 com músicas divertidas, alguns trocados e muita coragem. E a gente parte dando tchauzinho, sorridente, para quem fica pra trás – e estes, geralmente choram, nos vendo partir.

Esta cena deveria ser um alerta. Se quando optamos por ir para longe, e os outros choram, é por que a coisa não é boa. Tudo bem que rola um certo egoísmo aí, de as pessoas não quererem que você vá, e querer que você fique sempre por perto. Mas na real, é que quem fica sabe: você está ferrado!

Partir significa recomeçar. É tudo novo. A começar pelo caminho. O trajeto é desconhecido, as companhias são desconhecidas, o local é estranho aos olhos. A comida, a água, o dia, e finalmente, as pessoas são desconhecidas. Mas, sobretudo, os sentimentos que agora pululam no peito, também serão desconhecidos.

Novos laços são firmados. Novas amizades, afetos, e quem sabe até amores. E longe de casa você pensa que pode sufocar o mundo com sua sede de viver, sede de crescer, capacidade de transformar qualquer metal em ouro. Aí, longe de casa, daqueles seres que te reconhecem e lembram dos seus valores, você começa a testar novos valores. Uma enxurrada de “por que não?” surge em cada nova esquina, em cada novo encontro, em cada novo beijo, em cada novo “olá”. E é tudo tão novo, tanto entusiasmo, que quando você menos espera... está longe demais de casa!

E como “casa”, eu me refiro a tudo! Seus valores, suas potencialidades, seu conforto. Você deixa de estar em casa, mas deixa, também, de ser você. Ou pelo menos quem você era. E quando você choca uma realidade na outra, vê claramente: “O que eu me tornei?”. Nesse meio tempo, você percebe que na sua nova casa, todos estão bebendo, curtindo, usando alguma substância ilícita, o som está alto, as pessoas caminham nuas pelos corredores, e todos dizem que são seus amigos... e que a festa está boa...

Uma lágrima de desespero escorre no seu rosto. “Como eu deixei tudo isso acontecer?”. Aí você decide dar uma de louco. Larga tudo e vai embora! Resolve voltar. Abre o sorriso, os braços e o coração. Junta tudo na mochila de novo, pouco se preocupando se vai esquecer alguma coisa. Afinal, você está voltando pra casa... “pra casa”... e só de dizer isso, você se sente emocionado. E vai! Parte novamente, fazendo o caminho inverso.

E bastam cinco dias para você estar embarcando de novo, partindo novamente. Por que percebeu que onde você criou suas raízes não é mais seu ninho. E que agora você precisa encontrar seu caminho. E descobre que retornar para aquele lugar que te deixou tão desequilibrado, também não é agradável. E você chora, dando “tchauzinho” na janela para quem fica, que chora também. Agora você entende.

E quando chega, naquele lugar que agora você chama de “casa”, redescobre seus valores. Vê toda aquela gente e toda aquela bagunça e berra: “Parô tudo!”. Naturalmente, vão te xingar de careta, chato e outras coisas. E estes fetos emocionais vão para a casa de alguém que acaba de se instalar... e vai cometer os mesmos erros que você, por não compreender o choro de despedida de quem ficou. E você coloca a casa em ordem, tentando inutilmente fazer aquilo parecer sua “casa original”. Mas toda vez que você sonha, e diz “estou em casa” no sonho... é naquela primeira casa que você se vê.

Leva um tempo, mas dizem que você consegue criar algo que se pareça com um lar. Lentamente você vai convidando, seletivamente, as pessoas que você julga certas para entrar. Mas impõe algumas leis fundamentais: “- me ame; - cuide de mim; - me respeite; - me deixe te amar; - me deixe cuidar de você; - me deixe te respeitar; - e não pise no sofá. Por que aqui dentro dessa casa, as coisas não são bagunçadas assim, não”.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Yose Ue




Decidi montar meu jardim com aquilo tudo que mais gosto, e depois suspendê-lo, para bem longe desse piso raso no qual a gente vive. Meu jardim é um aspecto de minha própria natureza ou necessidade, e nele haverá muitas árvores centenárias, flores desabrochando, pássaros exóticos.

Em meu jardim os ambientes favorecerão meus hábitos. Como o espaço para meditar à sombra do Pessegueiro em flor, no alto da colina, rodeada pelo riacho e moitas de bambus. Ou o parque de Sakuras, com trilhas em terra pisada, que atravesse uma velha ponte de pedra. E até mesmo uma praia ensolarada, com Palmeiras Imperiais gigantescas. Minha casa, uma singela construção em madeira, no fundo de um vale fresco, será ladeada pelas folhas vermelhas dos Bordos, com um pátio anexo para eu cultivar Juníperos Shimpakus.

E quanto este cenário todo me cansar, vou escalar os degraus da montanha de pedras e Pinheiros, e no topo nevado vou me abrigar numa barraca. E durante a noite, namorando a aurora boreal, vou estar acompanhado do meu bule de chá, observando todo o planeta e imaginando: como deve ser triste viver longe daqui.

Meu jardim não será aberto à visitação. Por isso, um Qirin logo na entrada cuidará para que somente os turistas que mereçam possam subir. Ao longo do caminho até minha morada, borboletas azuis cuidarão de guiar os convidados até seus aposentos. Para percorrer este pequeno paraíso, um longo e branco Dragão perolado será minha montaria, e viverá tranquilamente numa caverna sob uma cachoeira, atendendo somente quando eu tocar minha flauta.

Esse pequeno paraíso será envolto numa bolha de mistério e imaginação, como o Velho Reino de Avalon ou Atlântida. E somente aquele que possui a chave para atravessar a sutil camada mágica que me desliga desse mundo, poderá encontrar os portões do meu Jardim. Aqui dentro, eu brinco de ser feliz, o tempo me obedece, e o amor pode ser sentido respingando por todo lado como orvalho. Aqui, eu vivo a realidade... a “minha realidade”.

Enquanto eu estiver no meu jardim, posso pedir um favor? Apague a luz quando entrar.

Unsent III



"Unsent" é uma musica de Alanis Morissette onde ela canta trechos de cartas que nunca enviou. Abaixo está meu terceiro "unsent". Coisas que escrevi, mas nunca enviei...

[...] Pouco adiantou apagar meus cigarros, deixar meus palavrões no fundo da garganta, não ouvir mais minhas músicas “mundanas”. Pouco adianta, na verdade, entender teu pensamento, teu jeito, teus defeitos. De nada me ajuda receber você com a sinceridade do que sinto, se você simplesmente não acredita em mim. Se sua visão ao meu respeito é tão limitada a este ponto, eu desisto! Não há nada que eu possa fazer para te deixar mais a vontade, confiante ou seja lá o que for que você queira ouvir ou sentir. Tudo o que eu fizer, você vai perverter, e aí meu bem, não há quem consiga agüentar isso.

[...] Me deixar esquecido na sua agenda telefônica, no fundo do seu coração, como uma conta à ser paga, não é respeitoso. Sei de suas dificuldades em expressar qualquer coisa, qualquer sentimento. Sei de suas dificuldades em colocar pra fora tudo o que sente, e sei que você sente um monte de coisas. Mas fugir para baixo das asas de outra família não vai te livrar da dor que sente por não se sentir bem pela sua própria. Eu quis chegar bem perto do seu coração e te ajudar a se transformar numa pessoa melhor, mas se você não quer mudar, tudo bem. Deveria ter, pelo menos, o respeito devido por mim, na qualidade de ser quem sou.

[...] Se você quer falar de seus problemas e dores, quer meu colo para chorar, meu ombro, ou simplesmente gosta de ouvir minha opinião, então faça isso por mim também! Entenda que tenho necessidade de chorar, de deitar no seu colo e pôr tudo pra fora, mesmo que seja pra você me dizer: “calma, vai ficar tudo bem”. Então não me cobre aquilo que você não pode me oferecer, não queira de mim aquilo que você não é pra mim.

[...] Sim, eu troco você por um copo ou dois de vodka cara. Limpar minha alma chorando nos ombros de alguém, mesmo que ninguém esteja entendendo patavinas do que este degenerado diz, é muito melhor do que sentar na sua frente e não ser ouvido por você. O álcool tem essa capacidade estranha de nos entender, nos abraçar por dentro, e nos fazer chorar horrores... coisa que um abraço também tem poder, mas depende nas mãos de quem. Sendo assim, não me recrimine. Lembre-se que nossa relação deve ser uma troca... e não uma via de mão única.

[...] Cansei de vocês! Cansei dessa suposta benevolência que não me põe comida no prato. Cansei da hipotética bondade que finge me apoiar, mas que está pouco se lixando para o meu bem estar. Cansei de ser a galinha que bota ovos de ouro pra vocês, em troca de meia dúzia de grãos de milho de parca qualidade. Meu talento não é dos melhores, mas ainda assim é mais do que o seus. No que depender de mim, “tô fora” desse galinheiro, foda-se este puleiro, eu vou cantar em outro terreiro. Adeus!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ninguém é obrigado

Sabe naqueles dias em que todos os seus dissabores resolvem explodir na sua cara, e você fica com uma puta cara de merda? Sua aura fica cinza, apodrecida, com um aspecto pegajoso... e você só quer reclamar e chorar? Sabe aquela sensação de depressão batendo à porta da sua percepção e um abandono tamanho invade seu peito? Sabe, nesses dias, em que você não sabe qual é a porcaria nessa vida que te mantém vivo e você nem sabe por que é obrigado a continuar vivo? Pois bem, ninguém é obrigado a tolerar você.

Cada criatura no mundo ta vivendo sua vida, prazerosamente ou não, curtindo seu momento. Cada um tem suas próprias doçuras ou amarguras, suas dívidas e dividendos, e é bem assim que a banda toca: cada um que cuide do seu. Ninguém é obrigado a fazer nada por você, nem é obrigado a sequer saber o que fazer. Não é culpa do mundo que o mundo te odeia, talvez você até mereça isso! Ninguém é, nem nunca foi, obrigado a tolerar você.

Entretanto, foi o filósofo Diogo Pires Aurélio, em sua obra “Um Fio de Nada – Ensaio sobre a Tolerância”, quem levantou uma questão sobre o termo “tolerar”. A ambivalência no conceito de tolerância surge na etimologia da palavra, já que “tolerare” significa, em princípio, “sofrer, suportar pacientemente”. Mas também tem a acepção de “sustentar”, no sentido de “alimentar alguém”. De uma forma mais explícita, o radical “tol-“, comum a “tolerare” e a “tollere”, denota a ação de erguer, elevar.

Portanto, ninguém é obrigado a tolerar ou suportar você. Nem você é obrigado a tolerar ou suportar alguém. Mas se você se prontifica a fazer isso, assumindo papéis, aí sim, sua responsabilidade ou quase obrigação (senão a própria) é tolerar.