terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Longe dos Problemas

Sentada no topo da colina, ela contemplava as montanhas no horizonte com seu olhar lânguido. O céu estava azul, as nuvens caminhavam apressadas nas estradas de correntes de ar, e uma brisa fresca esvoaçava seus cabelos castanhos claros. A grama era tão macia, que acolhia seu corpo confortavelmente. Não havia preocupação, apenas borboletas negras e azuis.



Sentiu na boca um gosto amargo, que a fez franzir a testa e engolir a saliva, como se buscasse silenciar uma palavra. Respirou fundo. E sensação sumiu por algum tempo. Quando voltou, o gosto era mais forte, e lhe encheu os olhos d’água. E num movimento brusco ela jogou-se com as mãos para o chão, cuspindo o que quer que fosse que estivesse vindo de sua garganta. Havia sangue.

Seus olhos brilharam para a pequena mancha vermelha sobre a grama macia. Mais uma vez, o vento soprou seus cabelos, e os pássaros cantaram ao longe. A tranqüilidade ao seu redor agora não era mais contemplativa. Era assustadora...

Mais uma vez, o gosto amargo lhe encheu a boca e ela tentou vomitar. Água, sangue e saliva banharam a grama, enquanto ela sentia algo sólido caminhar em seu esôfago. O desespero tomou conta de seu corpo, e agora chorava copiosamente, assustada. Fitava o céu tranqüilo, e as nuvens vagarosas lá em cima. As borboletas permaneciam alegres com a brisa fresca que vinha das belas montanhas.

O corpo estranho atravessou as cordas vocais, silenciando seu choro, intensificando sua dor e preenchendo sua boca com algo viscoso e macio. Ela se jogou de costas no chão, enquanto sentia algo revirando suas vísceras. E de sua boca surgiu uma fina flor: um lírio vermelho, manchado de sangue. E um grito de agonia e dor ressoou... mas não foi suficiente para perturbar a paz daquele lugar.

Assim, ela se transformou num gracioso ramalhete de lírios vermelhos, que mais tarde foram limpos por uma suave garoa. Seu desespero não pôde ser ouvido, pois anos atrás havia decidido não enfrentar os problemas de sua vida, e isolou-se em uma colina tranqüila e cheia de paz.

2 comentários:

Emilene Lopes disse...

Que texto maravilhoso!!! Você me fez viajar aqui entre pensamentos, em uma mistura de sentimentos...
Lindo demais, Mateus!
Minha admiração!

Bjs

Mila

Cáh disse...

acho que sou eu, rs
mas a escolha não foi de 'não enfrentar' os problemas,
mas minimizá-los!



Te amo sempre.