terça-feira, 8 de março de 2011
Quando o dia acorda bem
Parado diante dela, ele chorava copiosamente, lavando seus olhos azuis. Enquanto tentava compreender seus próprios sentimentos, tentava encontrar uma forma de dizer aquilo à sua amada, mas nunca fora muito bom com as palavras... e ser gago, numa hora dessas, não ajudava.
Ela, miúda e ruiva, de metálico aparelho nos dentes, o observava espantada. Aquele jovem e belo rapaz de 19 anos, 1,90m, braços musculosos e tatuados, de pele morena jambo... chorava feito criança. Seu rosto aquilino e nariz adunco, lavados de lágrimas, revelavam muito de sua força e garra pela vida, pois não foi fácil para ele, também, a pobreza.
Constrangida frente a turma toda que deixava a escola naquela hora, de uma classe social muito mais elevada, ela tentou passar. Ele, vendo sua única chance tentando escapar, a segurou. Era mesmo muita coragem, diante de uma escola lotada do ensino médio, falar de amor...
Ele tentou articular uma frase, mas o nervosismo – e talvez o amor – o fizeram apenas soltar alguns grunhidos e fazer algumas caretas. Todos riram, e ela baixou a cabeça, ainda mais envergonhada. E naquele instante, um anjo surgiu na forma de uma menina de óculos pesados e semblante tímido. Ela se aproximou dele e sussurrou: “cante!”. E ele se lembrou que quem canta seus males espanta, e que com a gagueira não era diferente... finalmente sorriu... e soltou a voz.
“Quando a gente conversa, contando casos besteiras...
Tanta coisa em comum, deixando escapar segredos.
Eu não sei que hora dizer, me dá um medo! Que medo...
Eu preciso dizer que te amo, e te ganhar ou perder, sem engano.
Ah eu preciso dizer que te amo... tanto!”
O olhar de todos os alunos haviam sido capturados por ele, dotado de uma voz tão cristalina e emocionada, que impôs o silêncio sob os outros, como Lei. Ninguém conseguia sequer respirar naquele instante, e quebrar a magia daquele momento. Ele então prosseguiu:
“Tatuei o seu nome num coração, aqui no peito meu.
Agora digo sem medo, pra quem ouvir,
que a melhor parte de mim
é você...”
E abriu sua camiseta, revelando uma tatuagem linda em seu peito, fazendo com que a pequena homenageada – e mais uma pequena dezena de garotas – perdesse o ar.
“Sempre que houver uma canção
falando tudo de mim,
sempre vai haver uma voz
cantando tudo, tudo de nós...”
Naquele momento, eu fiquei parado, olhando a cena toda. O beijo, os abraços, os aplausos. Sorri, é verdade. Mas desliguei a TV. Decidi viver meu próprio romance...
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2 comentários:
Muito lindo o texto, adorei...
Bjs
Mila
Que lindo!
Encantadíssima!
Beeijo
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