terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Toda tristeza será castigada.



Pra começo de conversa o nome dele era Florêncio. “Que tipo de demônio põe um nome desses no próprio filho?” – ele pensava com rancor. Mas não tinha mais a quem culpar. Aos 22, sem pais, vivendo sozinho, só podia esperar que seu nome remetesse à florescência. E que um dia, sem menos esperar, o sol fustigaria sua semente sob a terra e a água, e dali desabrocharia uma flor. Um baobá, talvez. Ou um cacto...

Levava a vida toda condensada. Do trabalho pra casa. Da casa pro trabalho. Da sexta-feira, pulava pra segunda, sem se importar. Sem sair. Sem se divertir. Era verdadeiramente um espírito murcho, sem soro, sem polpa, sem nada. Por isso se vestia sempre de preto. Era um luto por si mesmo que desistira de lutar.

Talvez tenha sido justamente isso, essa tristeza toda, que chamou a atenção de Marcos. Como um raio estalando no céu, ele caiu sobre Florêncio com o pulso fechado, dentes cerrados e olhar de ódio. E o soco no meio da cara dele teve o mesmo efeito – ou ele pensava assim – que o ópio. Por fim, ele agradeceu a surra que tomou. Como morfina, ela aplacou um pouco a sua dor.

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