sexta-feira, 9 de novembro de 2012

E de repente 27

Morre-se aos 27. Quem tem talento no mundo da música e fez a diferença, geralmente, morre aos vinte e sete anos de idade. Foi assim com Jimmy Hendrix, Janis Joplin, o guitarrista Robert Jonhson,Kurt Cobain, Jim Morrison, o Rolling Stone Brian Jones, entre outros.

Ontem eu fiz 27. Infelizmente não sou músico, nem estrela do pop. Também não fiz a diferença no mundo da música. Não que eu quisesse morrer aos vinte e sete. Nem pensar! É que foi com essa idade tão tenra, que muita gente fez coisas realmente grandiosas. Eu, ao contrário, sou designer.

Não vou ficar no Top10 da Billboard. Não vou ser entrevistado pelo Jô Soares, Marília Gabriela, Fantástico, Faustão, Toda Teen ou a Revista Capricho. Não haverá milhares de jovens, homens e mulheres, se estapeando pra chegar perto de mim, ou para comprar um ingresso do meu show. Eu não vou fazer um show.

Também notei que não vou curar uma pessoa. Descobrir um planeta novo ou vida bacteriana num asteróide. Não vou descrever uma nova raça de animal em um livro badaladíssimo no mundo da biologia. Muito menos vou projetar uma ponte que interligue a Europa à África, ou um prédio que ligue a Terra à Lua.

Eu, ao contrário, sou designer. Vou criar uma logo, uma marca, um jingle. Talvez vire febre, vire moda e seja consumido feito Coca-Cola. Pode ser que esteja nos trending topics do Twitter e se torne meme no Facebook. E com isso, milhares, milhões, bilhões de pessoas vão consumir um produto potencialmente calórico ou que desgaste o cálcio dos dentes. Crianças de rua vão juntar R$ 5,00 de esmola, e ao invés de comprar comida ou remédios, vão querer experimentar este produto tão distante de sua realidade.

Eu vou fazer as pessoas gastarem e empresas crescerem. Talvez eu até faça algo muito bom para uma banda de rock, uma diva pop ou um evento mundial onde jovens tomam drogas e dançam por cinco dias sem parar. Talvez eu divulgue tão bem um resort, que ele se torne a nova Abu-Dhabi para os “X-lhonários” do mundo do petróleo. Mas eu acho que este é o máximo que se pode alcançar. E também é o mínimo na relação das coisas que fazem a diferença pra humanidade.

Eu gostaria de fazer a diferença pra humanidade e pra mim. É dito que entre 27 e 30 anos ocorre uma revolução no seu mapa astral, o “Saturno Retrógrado”, um momento de reflexão e auto avaliação. Nessa fase nos tornamos mais críticos, mais adultos, e passamos a ver e mudar tudo aquilo que não faz diferença na nossa vida a aos nossos propósitos de vida. É quando crescemos.

Acredito que meu Saturno Retrógrado deva estar dando cambalhotas agora, vindo todo vigoroso, bamboleando seus anéis em total despereso por mim. Por que recentemente eu tenho pensado: “que diferença eu faço?”.

Ok, não sejamos piegas e comecemos com aquele blá-blá-blá de que se faz a diferença para as pessoas que nos amam, nossa família etc. Estou pensando em nível prático. Em fazer o bem a todos, a quem possa interessar. E não só para algumas pessoas que por obra do acaso (ou Deus) nasceram ao seu redor. Que diferença eu faço pra história, pro mundo?

Um design legal para uma camapanha do Greenpeace? Um history board bacanudo pra divulgar uma campanha de doação de medula? Um apelo super sensível que arrecadará doações milhonárias pro Teleton, Criança Esperança, Cruz Vermelha, Médicos Sem Fronteiras? Talvez. E mais empresas lucrarão. Venderão a preços absurdos seus remédios, tratamentos e próteses, e peças de reposição, filtros antipoluentes, papeis reciclados e química para lavar alimentos abarrotados de mais química.

Também não vou ter filhos. Sou gay, afinal. Então não serei o Pai do Salvador. Ou o avô. Ou o tataravô. Minha linhagem termina aqui, comigo. E me envergonho. Sinto que meu papel nessa Terra foi coadjuvante ou até mesmo figurante.

Procuro pensar que tudo isso tem um bom motivo. Talvez eu não tenha me enveredado no mundo da medicina, biologia, química ou física, para não acabar construindo uma arma de destruição em massa. Talvez eu não seja um astro do rock para não influenciar jovens de cabeça fraca a se sentirem os maiorais, e que fatalmente fariam escolhas cretinas na vida. Talvez eu não seja um bom engenheiro, para não construir máquinas de guerra ou industrias e empresas poluentes. Talvez eu não seja advogado, juiz ou coisa do tipo, para não livrar a cara de mercenários, bandidos e genocídas. Talvez eu até tenha nascido gay para não ser o progenitor do próximo Hitler. Vai saber? “Deus sabe o que faz”, não é o que se diz? De qualquer forma, poderei causar pouco ou nenhum problema para o mundo, o que já seria uma grande diferença.

O fato é que fiz 27, e isso me incomodou. Me fez pensar em Saturno, emprego, família, vida... Me fez repensar escolhas, pessoas e situações. Me fez pensar que Rodolfo Abrantes deixou os Raimundos aos vinte e sete, e se tornou um religioso. E tudo isso ficou aqui dentro, revirando.

Espero ansiosamente que toda essa matéria e energia se agrupe logo e condense. Que esse novo sistema gravitacional fique tenso e quente, até que exploda numa Super Nova. Uma Super Nova vida, super nova maneira de ser, uma estrela (ou grupo de estrelas) brilhante (s) que fará(ão) a diferença.

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